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Sustentabilidade: de custo inevitável a motor partilhado de competitividade
Só com esta partilha tripartida será possível transformar a sustentabilidade de encargo inevitável em motor de progresso económico, social e ambiental.
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A transição para práticas sustentáveis tornou-se inevitável. Já não é apenas um imperativo ético ou ambiental, mas também uma exigência regulatória e competitiva, tanto no mercado europeu como no português. Contudo, esta transição carrega custos significativos: utilizar matérias-primas recicladas, assegurar cadeias de valor justas, reduzir emissões de carbono ou adaptar embalagens a novas exigências regulatórias exige um esforço financeiro que não pode ser subestimado.

A grande questão que se coloca é simples, mas estruturante: quem deve arcar com os custos da sustentabilidade? Será responsabilidade exclusiva das empresas, à custa da redução das suas margens de lucro? Deve o Estado assumir um papel mais ativo através de subsídios e incentivos? Ou será inevitável que os consumidores paguem preços mais altos por produtos mais sustentáveis? A visão das grandes marcas de fabricante, representadas pela Centromarca, é clara: a sustentabilidade só será exequível e justa se assente numa responsabilidade tripartida — empresas, Estado e cidadãos.

Do lado das empresas, os custos são particularmente visíveis em setores como bebidas, higiene, limpeza ou embalagens alimentares, onde a pressão para reduzir impacto ambiental implica reformulação de processos, inovação tecnológica e logística reversa. São investimentos de elevada intensidade e em mercados de margens curtas. Ao mesmo tempo, a regulação europeia — seja através da CSRD, das regras sobre embalagens ou da legislação anti-desflorestação —, apesar de necessária para garantir consistência e comparabilidade, traz consigo encargos adicionais que as empresas não podem suportar isoladamente.

O papel do Estado é, portanto, central. Não se trata de substituir as empresas no esforço, mas de reduzir os custos de contexto e criar condições para que os investimentos em sustentabilidade não se transformem em penalizações competitivas. Incentivos fiscais, linhas de financiamento simplificadas, estabilidade regulatória e fiscalização eficaz contra práticas enganosas como o greenwashing são instrumentos indispensáveis. Um quadro de apoio eficaz não é apenas um sinal de compromisso político, mas também um catalisador para que a sustentabilidade seja vista como fator de competitividade e não como fardo.

Mas a equação não se completa sem o consumidor. O consumidor português valoriza cada vez mais a sustentabilidade, mas continua muito sensível ao preço. A transição será tanto mais sólida quanto maior for a literacia ambiental e a consciência de que escolhas responsáveis têm impacto coletivo. Cabe aos cidadãos reconhecer o valor de produtos que asseguram salários justos, matérias-primas sustentáveis e embalagens recicláveis — e assumir um papel ativo no uso responsável e no fim de vida dos produtos. A corresponsabilização é, assim, condição de equilíbrio.

Neste contexto, os retalhistas surgem como agentes determinantes. A sua capacidade de influenciar preços, formatos de exposição e critérios de negociação pode acelerar a transição, mas também pode travá-la se o foco for exclusivamente o preço. É fundamental que retalhistas e fabricantes caminhem em conjunto, reconhecendo que os custos da sustentabilidade não podem ser empurrados apenas para um dos lados da cadeia de valor. A cooperação é, aqui, sinónimo de visão estratégica.

Também as marcas próprias desempenham um papel ambivalente: podem democratizar o acesso a soluções mais sustentáveis, massificando-as, ou podem desvalorizar o esforço das marcas de fabricante se competirem apenas pela lógica do preço. O desafio está em assegurar que a concorrência, saudável e legítima, se faça também em torno da sustentabilidade como critério central de diferenciação.

Há ainda uma dimensão reputacional incontornável. O risco de greenwashing, de falsas promessas ou de comunicação enganosa, é real e penaliza sobretudo quem investe verdadeiramente. A confiança do consumidor é um ativo crítico: sem ela, os esforços genuínos das marcas ficam diluídos. É neste ponto que a transparência, a regulação e a fiscalização devem convergir para garantir credibilidade.

A pergunta final é inevitável: a sustentabilidade será sobretudo um custo acrescido para as marcas ou um fator de competitividade e diferenciação? Para a Centromarca, a resposta é inequívoca: será as duas coisas. Representa, no imediato, custos significativos em investimento, inovação e adaptação regulatória. Mas é também, no médio e longo prazo, um motor essencial de competitividade, de diferenciação de marca e de criação de valor.

O desafio não reside em eliminar custos, mas em distribuí-los de forma justa. Empresas devem liderar com inovação e responsabilidade. O Estado deve reduzir os custos de contexto e criar mecanismos eficazes de apoio. Os consumidores devem valorizar escolhas responsáveis e assumir o seu papel no uso e destino final dos produtos. Só com esta partilha tripartida será possível transformar a sustentabilidade de encargo inevitável em motor de progresso económico, social e ambiental.