O nosso colega Rafael Alves Rocha, director geral da CIP, publicou, na semana passada, um muito interessante artigo no Jornal de Negócios, que intitulou ‘Portugal não tem um problema de produtividade?’.
A produtividade é, demasiadas vezes, avaliada de numa perspectiva volumétrica, e, nem sempre, produzir mais significa conseguir uma maior produtividade. A utilização eficiente de recursos tem uma elevada importância, mas se o valor obtido com a venda dos bens produzidos for baixo, então a produtividade – se analisada, por exemplo, através de um indicador de valor/hora - é negativamente afectada.
Por isso, a produtividade do trabalho em Portugal, de acordo com os dados da PORDATA para 2019, não ultrapassava os 22€/hora e comparava, obviamente, muito mal com a média na UE, que se situava nos 40€.
Rafael Alves Rocha, afirma no início do seu artigo, de forma irónica, que Portugal não tem um problema de produtividade., porque “produzimos bem, produzimos muito, e produzimos com alto valor acrescentado, o que permite às nossas empresas uma forte presença nos mercados globais”. Para logo de seguida, concluir que, “infelizmente, acontece exatamente o oposto”, acrescentado que temos algumas empresas em sectores altamente competitivos, mas que “é um dado inquestionável que a nossa produtividade é baixa. Certeza que compromete seriamente a internacionalização da nossa economia”.
Na verdade, mais do que discutir se produzimos muito, é importante perceber se produzimos bem e, muito especialmente, se produzimos com razoável valor acrescentado.
Lembra ainda o Director Geral da CIP que, de acordo com os dados do Eurostat, “em 2016 tínhamos um nível de produtividade equivalente a 72,8% da média da Zona Euro, mas em apenas seis anos fomos ultrapassados pela Estónia, Letónia e Lituânia. No âmbito da UE, também a Croácia, a Roménia e a Polónia passaram à nossa frente”, chamando a atenção que a “produtividade do trabalho em Portugal em 2022 correspondia” a não mais de “72% do valor registado na Zona Euro”.
Este estado de coisas pode ser alterado e melhorado por várias vias, a montante, numa maior eficiência de processos, numa melhor formação dos colaboradores, na automatização da produção, na redução de custos operacionais e de contexto, medidas que podem contribuir para melhoria da quantidade, qualidade e custo dos bens e serviços produzidos. Mas a adição de valor acrescentado dificilmente atingirá valores relevantes se esses bens e serviços não forem mais bem valorizados no mercado.
Esse adicional de valor acrescentado impactará positivamente a produtividade porque permitirá reforçar a qualidade, a motivação e a remuneração dos colaboradores, porque permitirá reforçar o investimento em inovação, design e criatividade, porque permitirá apostar em novos mercados, porque permitirá investir em marca, em marketing e em comunicação, porque permitirá apostar, ainda mais, na satisfação do cliente e do consumidor.
Como insistentemente lembramos, o aumento do valor de um produto ou serviço, entre outras razóes, depende da construção de marca que sobre ele for feito. E, como sabemos, a marca pode aumentar o valor de um produto ou serviço de várias formas: reforçando a respectiva percepção de qualidade, consistência e confiabilidade, induzindo uma disposição a pagar um preço superior; criando uma convicção de distinção e diferenciação face a produtos concorrentes, através, por exemplo, do recurso a design exclusivo, identidade visual marcante, reputação da marca ou à utilização de mensagens de marketing únicas.
Um bom trabalho de construção de marca permite também o reforço da lealdade, primeiro do cliente, depois do consumidor. Quando um consumidor que têm uma conexão emocional e uma empatia genuína com uma marca ou mostram forte satisfação com a experiência do produto tendem a repetir a compra do mesmo produto ou serviço, tendem a exigir a sua presença nos espaços em que realizam os seus actos de compra. Uma marca forte e valorizada permite ao seu detentor um maior controle sobre os preços, pode facilitar a introdução de novos produtos ou pode alimentar a expansão para novos mercados.
Lamenta-se Rafael Alves Rocha a dada altura no seu artigo: “a baixa produtividade das nossas empresas - e também do Estado - é um problema grave, crónico e inquietante que temos de enfrentar em conjunto. Não é útil para ninguém fazermos de conta que vivemos numa real idade alternativa. Temos pessoas qualificadas, temos infraestruturas capazes e temos acesso aos mercados globais. Qual é, então, o problema? A resposta é conhecida há algum tempo: capital, investimento e o contexto adequado para que a economia portuguesa possa desenvolver-se plenamente”. E, acrescento eu, no quadro desse contexto adequado, falta uma verdadeira cultura de marca, a capacidade de construir marcas fortes que se consigam impor nos mercados internacionais.
Por isso, faz sempre sentido trabalhar para aumentar o valor da nossa produção, dinamizar a cultura e a componente marca que beneficia esse mesmo valor, construir marcas a partir de Portugal que consigam impor-se nos mercados internacionais. Se assim fizermos, seguramente conseguiremos gerar riqueza, gerar emprego e aumentar os nossos indicadores de produtividade para patamares que comparem