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Inflação sob controlo? Uma leitura atenta dos dados mais recentes…
Os mais recentes indicadores divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística permitem concluir que a inflação em Portugal se mantém sob controlo
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Os mais recentes indicadores divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística permitem concluir que a inflação em Portugal se mantém sob controlo, apesar de algumas pressões conjunturais associadas, em particular, ao comportamento dos alimentos não processados.

Em agosto de 2025, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) fixou-se em 2,8%,  0,2 pontos percentuais acima do valor registado em julho e o quinto aumento consecutivo. Trata-se, apesar de tudo, de uma alteração marginal, que ainda não compromete a trajetória de relativa estabilidade que tem vindo a caracterizar a evolução dos preços no último ano. Prova disso é a taxa de inflação média dos últimos doze meses, que passou de 2,3% para 2,4%, sinal de uma evolução suave e longe de qualquer cenário de descontrolo inflacionista.

Outro dado que merece destaque é a variação mensal do IPC, que registou em agosto uma descida de -0,2%. Depois da redução de julho (-0,4%) e da variação igualmente negativa de agosto de 2024 (-0,3%), este comportamento reforça a ideia de que não há um movimento contínuo e generalizado de subida dos preços. Por sua vez, o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), indicador de referência para efeitos de comparação europeia, manteve-se estabilizado em 2,5%, o que contribui para consolidar a percepção de estabilidade.

A explicação para a aceleração pontual da inflação encontra-se sobretudo na evolução dos preços dos alimentos não processados, que registaram uma variação homóloga de 7% em agosto, face aos 6,1% do mês anterior. Ao contrário dos produtos alimentares transformados, cuja estrutura de preços reflete cadeias de valor mais estáveis, os alimentos frescos — frutas, legumes, carne, peixe,… — são fortemente influenciados por fatores exógenos.

As condições climatéricas adversas, que afectaram várias colheitas, bem como os impactos que estas têm sobre a produção animal, são determinantes para compreender a actual pressão sobre os preços destes bens. Em muitos casos, não se trata de fenómenos estruturais, mas antes de choques temporários que tendem a corrigir-se ao longo das campanhas agrícolas seguintes. Refira-se, ainda, que este fenómeno está a ocorrer com contornos similares em diversas outras economias europeias,

A inflação subjacente, que exclui precisamente os produtos mais voláteis — alimentos frescos e energia —, manteve-se em 2,5%, o mesmo valor do mês precedente. Este indicador constitui uma referência sólida para avaliar a tendência de fundo da inflação, e a sua estabilidade demonstra que o essencial da economia portuguesa continua a evoluir em linha com padrões previsíveis.

Este quadro permite concluir que, apesar de algum alarmismo que se vai ouvindo e lendo e de uma leitura muitas vezes enviesada e desfocada que se faz destes dados, Portugal não enfrenta, pelo menos para já, uma inflação descontrolada, mas sim um desafio localizado e conjuntural, relacionado com a evolução dos preços de bens particularmente expostos às condições naturais e sazonais. Importa, contudo, manter uma monitorização próxima e contínua, garantindo que as expectativas dos agentes económicos permanecem ancoradas e que os choques temporários não se traduzem em efeitos de segunda ordem sobre preços e salários.

Num contexto nacional e europeu em que a estabilidade é condição essencial para a confiança de consumidores, empresas e investidores, a leitura dos dados mais recentes é clara: a inflação portuguesa permanece sob vigilância, mas dentro de limites que asseguram previsibilidade, sustentabilidade e confiança no funcionamento da economia.