Forem recentemente divulgados os resultados do Europe's Consumer Goods Industry Barometer 2024, elaborado pela European Brands Association (AIM), no qual se salienta que as disrupções na cadeia de abastecimento, a pressão inflacionista e a escassez de mão-de-obra continuam a moldar as operações e as estratégias das empresas do sector de bens de consumo (FMCG) na Europa.
E se é verdade que a Europa parece querer, finalmente, dar prioridade ao reforço da sua competitividade, em 2024 a indústria de bens de consumo - o terceiro maior sector transformador europeu - continua cautelosa relativamente às perspetivas a nível de produtividade e crescimento na Europa.
Apesar dos sinais de melhoria, as perturbações na cadeia de abastecimento tornaram-se quase como um novo normal, impulsionadas pelos desafios de abastecimento e pelas tensões geopolíticas. Estes fenómenos geram incerteza e exigem ainda maior agilidade de adaptação, ao mesmo tempo que o sector procura manter o foco no reforço do seu crescimento e competitividade.
Os desafios contínuos da cadeia de abastecimento, desde o fornecimento até ao processamento e à distribuição, exigem que os fabricantes ajustem constantemente as suas operações, com custos acrescidos significativos. A inflação, apesar de actualmente mais controlada, continua a ser um problema para muitas empresas e acrescenta outras restrições.
Apesar disto, o universo FMCG europeu continua a ser um firme apoiante do Mercado Único, movimentando anualmente 276 mil milhões de euros em bens de consumo dentro da UE, o que representa 61% do total de bens FMCG comercializados. Os restantes 39% são exportados para fora da EU, equivalendo a mais 174,8 mil milhões de euros.
Contudo, estes problemas recorrentes levaram muitas empresas a ser obrigadas a cortar nos investimentos que previam fazer e a reduzir a sua força de trabalho nos últimos anos. Na verdade, o imperativo de nos focarmos na competitividade europeia nunca foi tão importante.
O inquérito foi realizado junto de 327 fabricantes da indústria de bens de consumo em 22 países europeus, entre os quais Portugal e 88% das empresas inquiridas reportaram ter enfrentado desafios de abastecimento, fornecimento ou produção no último ano.
O estudo revela ainda que essas dificuldades de abastecimento levaram a ajustes operacionais significativos, com 58% dos fabricantes a enfrentarem desafios de abastecimento de matérias-primas e componentes essenciais e 35% a reduzirem ou cortarem a produção para gerirem estas restrições. Duas em cada cinco das empresas inquiridasdizem ter sido afetadas pela escassez de mão de obra.
“Apesar das condições económicas desafiantes e da previsão, para o próximo ano, de redução de produção por 37% das empresas inquiridas, a indústria de bens de consumo irá continuar a resistir” indicou Michelle Gibbons, Diretora-Geral da AIM, no comunicado de imprensa que acompanhou a divulgação deste Barómetro europeu.
E acrescenta que “as nossas marcas estão presentes em quase todos os lares europeus e, considerando que o consumo doméstico representa 51% do PIB da UE, é crucial compreender o nosso papel fundamental no estímulo da economia e no regresso ao crescimento.”
O inquérito conclui também que a inflação continua a afetar o sector, com 94% dos fabricantes de bens de consumo a registarem aumentos de custos no último ano. Nomeadamente, a mão-de-obra, o transporte e as matérias-primas foram os fatores que mais sofreram com o impacto inflacionista, afetando os custos de produção e, consequentemente, os preços de cedência ao setor retalhista.
73% dos fabricantes inquiridos tiveram de refletir estes aumentos de custos em preços mais altos junto dos retalhistas nos últimos 12 meses. Outros 20% absorveram os custos e não alteraram os seus preços.
Sete em cada dez fabricantes viram os retalhistas aumentar o preço dos seus produtos junto do consumidor. 42% dizem ter visto aumentos em linha com os que ocorreram do lado dos produtores, mas quase 22% dizem que que os retalhistas aumentaram preços ao consumidor acima do que tinham incorporado.
Devido às pressões económicas, 36% dos fabricantes inquiridos tiveram de cortar os investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) e 38% reduziram o investimento de capitale, para além disso, 12% tiveram de tomar a decisão de reduzir a sua força de trabalho para manterem a competitividade no atual clima económico.
Avaliando os resultados com um ‘olhar’ nacional, o barómetro europeu espelha algumas das dificuldades que o scetor enfrenta, ainda que em Portugal comecemos a observar sinais económicos positivos que nos permitem encarar o futuro com algum ânimo. Apesar da resiliência das nossas marcas ser inquestionável, considerando as disrupções na cadeia de abastecimento, a inflação e a falta de mão-de-obra qualificada, temos de continuar a investir em inovação, digitalização e qualificação profissional por forma a assegurar a competitividade das empresas portuguesas e o crescimento sustentável do sector.
O estudo revela ainda que 17% dos fabricantes viram as suas vendas cair, 23% viram os seus lucros diminuir e 31% perderam quota de mercado. Por tudo isto, recomendam-se cautelas e ‘caldos-de-galinha’.