As transformações que estão a ser operadas na Europa pagam-se. As medidas de Sustentabilidade Corporativa, integradas no “coração do negócio”, pagam-se. Identificar e mitigar riscos, melhorar, desenvolver e criar condições em toda a cadeia de valor, especialmente nas áreas de direitos humanos e proteção ambiental, paga-se. Adaptar as operações, desde a cadeia de abastecimento até ao ponto de venda, paga-se. Colocar em prática medidas concretas, como a rastreabilidade da matéria-prima, melhorias nas condições de trabalho, redução da pegada de carbono, e a utilização de recursos sustentáveis, paga-se. Todo o processo de transição para práticas mais responsáveis e alinhadas com as políticas europeias, toda a inovação sustentável, paga-se.
Se olharmos bem, são quase sempre os mesmos que pagam, seja no processo que antecede, apoiando as suas cadeias de valor e os seus fornecedores e valorizando as mudanças que estão a implementar, seja no processo a posteriori, em contexto de COMERCIALIAZAÇAO E PÓS-VENDA do seu produto. E é esta parte que tem sido frequentemente ESQUECIDA POR MUITOS. Os que tomaram para si a responsabilidade de ajudar o ambiente e os direitos humanos, são aqueles a quem tem sido atribuído todos os custos inerentes a estas melhorias: as Marcas.
POUCOS falam dos desafios que muitas Marcas e empresas enfrentam ao adaptar-se a estas exigências, como o custo de reformular processos e cadeias de fornecimento, e o impacto na sua RENTABILIDADE e ainda as práticas de concorrência desleal de que são alvo (empresas e produtos que não têm esta visão de responsabilidade social, ambiental e de gestão). E é urgente falar-se DISTO, sob risco de se perder a economia CADA VEZ MENOS FORTE que resta à Europa.
No vídeo que esta semana partilhámos, da nossa congénere europeia AIM- European Brands Consumer, sabemos que a Indústria europeia de Bens de Grande Consumo (FMCG) investiu 16,5 mil milhões de euros em Investigação e Desenvolvimento E, no total, mais de 81 mil milhões de euros no CONJUNTO DOS PAÍSES DA União Europeia.
É urgente que se criem políticas que protejam as Marcas e os Consumidores. Não podem ser sempre os mesmos a pagar. E sim, as Marcas querem ter a possibilidade de serem líderes no novo paradigma de sustentabilidade E DE COMPETITIVIDADE, mas para lá chegarem precisam de sobreviver primeiro e fortalecer-se A SI e à Europa, depois.
Como é que se mantém a defesa deste novo paradigma importante para a Europa e para o mundo – evolução ambiental e de direitos humanos – e simultaneamente se protege as Marcas e as empresas fabricantes?
Lembro-me de duas pessoas, em dois contextos e reuniões completamente diferentes, que falaram em dois mecanismos que podem ajudar a criar as bases para um novo quadro legal de discriminação positiva para as Marcas.
O anterior Diretor Geral do Consumidor, Pedro Portugal Gaspar, que, numa reunião sobre formas de incentivar as Marcas à doação de produtos contrafeitos, abordava a possibilidade de criação de uma “lista positiva de Marcas”. O contexto não era o mesmo seguramente, mas a ideia reflete a possibilidade de se premiar as atuações positivas das empresas e Marcas e este deve ser o caminho. Como? Da mesma forma que os bancos terão acesso a empresas que não têm políticas de ESG, como podem o Parlamento Europeu e o Parlamento Nacional desenhar leis que premeiem as boas ações e não apenas punam os maus? Que incentivos fiscais, bancários, podem ser pensados e criados para incentivar o bom caminho?
Numa outra reunião, Ana Paula Barbosa, da Nielsen, perguntava: de que forma podem e devem os retalhistas e distribuidores premiar as Marcas, em contexto de venda, que têm políticas ambientais e de direitos humanos em toda a sua cadeia de valor? Não podem nem devem ser comparadas Marcas e produtos que não são comparáveis, para quem a base de partida não é a mesma, que não fizeram nada pelo ambiente e pelos direitos sociais ou que estão a fazer o máximo por eles. E aqui, também a legislação e CHAMADA SOFT LAW em termos de relações comerciais e direito comercial devem prever enquadramentos favoráveis a quem está a contribuir para um impacto positivo no ambiente, NO mercado e NA sociedade.
Se queremos a continuação da construção de um futuro mais sustentável e ético, temos de premiar Marcas que:
* implementaram a monitorização dos seus fornecedores de matérias-primas, permitindo identificar e resolver práticas de desflorestação de forma eficaz.
* implementaram programas que certificam o respeito dos direitos humanos nas fábricas e exigem das suas cadeias de abastecimento condições de trabalho dignas, como a proibição de trabalho forçado e infantil, O RESPEITO DOS DIREITOS SÓCIO-LABORAIS assim como DAS condições de segurança para os trabalhadores.
* têm vindo a adotar políticas de salário digno, indo além do salário mínimo legal. Empresas que estão a aplicar esta política nas fábricas dos seus fornecedores em países onde o custo de vida é elevado, garantindo que os trabalhadores recebam uma remuneração suficiente para viver com dignidade, que impulsionam um movimento em direção a melhores condições de remuneração e transparência salarial.
* estão a definir metas de neutralidade carbónica para os próximos anos, através da melhoria de processos internos e de produção, mas também da escolha de fornecedores que sigam práticas de baixo impacto ambiental, como o uso de energias renováveis e materiais recicláveis.
* incentivam o uso de materiais mais sustentáveis E ESTÃO a desenvolver embalagens feitas com 100% de plástico reciclado, ou que têm investido na substituição do plástico em embalagens para alternativas mais ecológicas, como papel biodegradável.
Essa evolução na indústria de FMCG é um reflexo da transformação do sector em prol de práticas mais éticas e sustentáveis, um esforço que impacta diretamente o custo final de matérias-primas e produtos e são um exemplo de como o respeito pelos direitos humanos e ambientais se reflete no mercado.
Esta ligação entre sustentabilidade e custo final é fundamental para que os governos e consumidores compreendam a relação direta entre um produto com maior valor económico e a melhoria das condições de produção, que protege as pessoas e o planeta.
Este esforço concreto das Marcas e empresas, para alinhar-se com os novos padrões, tem de ser premiado e impulsionado através de um quadro legal de discriminação positiva nas relações comerciais, financeiras, fiscais e bancárias, desenhado NO QUADRO DA UNIÃO Europeia e com implementação nacional que beneficie estas mudanças e permita às Marcas manterem-se no bom caminho.