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APAGÃO DE 28 DE ABRIL: UM STRESS TEST AO GRANDE CONSUMO
O que o apagão nos mostrou é que estamos a confiar demais em sistemas sem garantir um plano B, sem cuidar das necessárias redundâncias. A eletrificação e a digitalização trouxeram eficiência e limitação de impactos ambientais, é verdade, mas...
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Na segunda-feira, 28 de abril, o universo do grande consumo levou um abanão como há muito não se via. Comparável, de alguma forma, aos momentos iniciais da pandemia, em março de 2020, teve contornos diversos, implicações diferentes, ansiedades distintas.

Unidades industriais com dificuldades de laboração, perdas não apenas por não produção, mas também por degradação de matérias-primas e produtos terminados que não resistiram a um período longo sem o apoio de sistemas de conservação.

Uma logística com dificuldades relacionadas com o processamento de encomendas, mas também com limitações na circulação de viaturas e mercadorias, pelo caos que se instalou e, igualmente, pelas dificuldades no abastecimento (elétrico ou de combustíveis) das suas frotas.

Um apagão digital que deixou caixas registadoras em silêncio, sistemas de pagamento fora de serviço e prateleiras sem reposição, num momento em que os consumidores acorreram em massa para se abastecerem de produtos que consideravam essências, face a uma ausência de energia que, durante largas horas, não oferecia a visibilidade que permitisse perceber durante quanto tempo de prolongaria

Foi um stress test doloroso para toda a cadeia de abastecimento, que a ausência de comunicações inflacionou  — e uma chamada de atenção que não deve ser ignorada.

Tudo aconteceu em minutos. O abastecimento elétrico parou, softwares caíram, redes falharam, e milhares de unidades de produção, entrepostos logísticos e pontos de venda ficaram praticamente paralisados. No caso do retalho, não era só uma questão de não se conseguir pagar com cartão — muitas lojas não conseguiam sequer abrir portas ou gerir os stocks. Para um setor que vive de agilidade e resposta rápida, o impacto foi real: vendas perdidas, produtos desperdiçados e clientes frustrados.

Mas o problema vai muito além das perdas daquele dia. O que o apagão nos mostrou é que estamos a confiar demais em sistemas sem garantir um plano B, sem cuidar das necessárias redundâncias. A eletrificação e a digitalização trouxeram eficiência e limitação de impactos ambientais, é verdade, mas também criaram um ponto único onde todo o sistema pode falhas. E quando tudo depende de tecnologia, basta um deslize para que tudo venha abaixo.

As grandes marcas também sentiram o impacto. Produtos que não chegaram às lojas, ruturas nas prateleiras, falhas de distribuição. Numa altura em que a competição pelo espaço e pela atenção do consumidor já é enorme, um dia sem presença pode significar muito mais do que uma simples quebra de vendas.

Então, o que podemos tirar disto tudo? Que é preciso mais do que tecnologia de ponta. É preciso garantir que, quando ela falha — e mais cedo ou mais tarde vai falhar — estamos preparados. Com backups, com planos alternativos, com equipas treinadas. E, acima de tudo, com a consciência de que a transformação digital tem de andar de mãos dadas com a resiliência.

O apagão de 28 de abril foi um susto. Mas pode ser também uma oportunidade para fazer melhor. E isso, no fim do dia, é o que conta.