A nova Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen entrou ontem (1 de dezembro) em funções, depois da luz verde à nova equipa, dada há poucos dias pelo Parlamento Europeu.
Ouvi há dias alguém com uma posição internacional relevante de policy e advocacy dizer que “temos de ir ao encontro da política, e não a política vir ao nosso encontro”, em relação à escolha dos temas prioritários para a nova Comissão e da narrativa envolvente dos mesmos.
Vieram-me logo à cabeça inúmeras questões sobre esta posição. Uma delas foi a frase que escolhi para título deste artigo, pois todos nós podemos e devemos criar e trilhar os nossos caminhos, nunca menosprezando a força que a nossa voz, argumento ou ideia possa ter. É por isso que a área do associativismo e do advocacy é tão importante, para poder mudar, moldar, enriquecer, melhorar ideias, politicas, áreas, projectos…nada está terminado, o mundo é um grande laboratório ou cozinha onde diariamente diversos cientistas e cozinheiros contribuem para que várias áreas progridam, de acordo com as suas formas de ver os assuntos.
A política são escolhas. Escolhas diárias. Não dos mais fortes, não dos mais fracos, mas muitas vezes daqueles que não desistiram de mostrar as suas ideias, caminhos, argumentos. Não raras vezes sobrevivem e ganham as ideias dos que melhor se adaptam às mudanças. Se nós na área associativa, de defesa de dossiês relevantes, transversais, complexos, não conseguirmos ver que temos obrigação de nos regermos pela máxima “agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, não estamos a fazer cá nada. Atenção, não advogo ir contra paredes, mas sim manter espinhas dorsais, mas também flexibilidade em pontos onde os consensos sejam possíveis.
Isto para dizer o quê? Onde está o sector de bens de grande consumo, parte integrante da indústria de Alimentação e Bebidas - a terceira maior indústria transformadora da Europa– no relatório da Comissão Europeia ‘The future of European competitiveness’, “desenhado para acelerar” a economia europeia? **
Não está. Podemos vasculhar e interligar com os discursos da Presidente da Comissão e encontraremos no programa de Ursula von der Leyen, em julho, sobre as políticas europeias da nova Comissão para 2024-2029: “É graças aos 9 milhões de quintas – e de uma forma mais abrangente o complexo agro-aimentar” que a Europa tem a mais saudável e segura comida do mundo. Isto é um activo estratégico e significa que a Europa é vital para a segurança alimentar global.” ***
Podemos obviamente deduzir que a indústria de alimentos e bebidas, parte essencial dos bens de grande consumo, está integrada em várias das prioridades estabelecidas pela nova Comissão Europeia para 2024-2029: Democracia; Transição Digital; Transição Ecológica; Competitividade e Inovação.
Ora, as Marcas, sector de bens de grande consumo, indústria de Alimentação e Bebidas, não são sõ “Competitividade”, ou os outros chavões europeus associados. O FMCG investiu 64,6 mil milhões de euros em ativos industriais na UE. Investiu 16,5 mil milhões de euros em Investigação e Desenvolvimento e mais de 81 mil milhões de euros na União Europeia. É um dos principais sectores exportadores da Europa. Números disponibilizados no Manifesto da AIM, produzido em conjunto com a Centromarca.
As Marcas são este caminho: São bens de primeira necessidade. São bens de saúde e bem-estar. São segurança alimentar. São segurança de produto comprado. São economia e valor, local e global. São emprego, trabalho, investimento e riqueza. São inovação. São propriedade intelectual. São valores, tradição, presente e futuro. São democracia e liberdade. São educação e proximidade. São sociedades. São pessoas. São bebés, crianças, jovens, adultos e idosos. São escolhas. São igualdade, diversidade e inclusão. São voz e diálogo.
O copo meio cheio desta análise ao Relatório pode indiciar que é nas áreas de FMCG que a Europa vai conseguir alcançar crescimento sustentável e competitividade. Por ser um foco de redução de dependência da EU face ao exterior e por ser uma área que vai ajudar a EU no caminho da descarbonização, da segurança económica estratégica e da inovação.
De qualquer das formas, ambiciono que a Comissão Europeia, a Presidente da Comissão Europeia, e as Marcas façam o seu caminho rapidamente para que num próximo discurso ou relatório seja enfatizada a importância de “reformar o sistema financeiro e simplificar regulamentações em diferentes sectores - incluindo o universo FMCG -
*adaptado de Antonio Machado Ruiz
**F&B excluded from European Commission’s competitiveness strategy, 16-Sep-2024 by Nicholas Robinson, https://www.foodnavigator.com/Article/2024/09/16/Food-and-drink-excluded-from-Commission-s-competitiveness-report/