Se de um doente se tratasse, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assinados há quase 10 anos por todos os membros da Organização das Nações Unidas (ONU), estariam num estado extremamente moribundo. É que desde 2015 e com 2030 a representar a meta a que este grupo se comprometeu alcançar, dá a sensação de que pouco ou nada foi feito, como se o relógio – que tem estado numa contagem decrescente desenfreada – tivesse parado.
E quantos são os objetivos? Não são 30, não são 20, são 17! Difíceis, é certo, mas alcançáveis na generalidade, pelo menos na altura em que foram assinados por todos os Estados.
Em parceria com a Google, a ONU lançou uma ferramenta digital onde conseguimos analisar, por país ou região, a evolução dos diferentes indicadores dos ODS.
A pergunta que se impõe é, por isso: E então? Como estamos? Olhemos para o que diz o último relatório apresentado este ano:
“A meio caminho da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o mundo está longe de estar no bom caminho, como mostra a figura que ilustra a situação atual dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Sem uma correção urgente do rumo e uma aceleração, a humanidade enfrentará períodos prolongados de crise e incerteza - desencadeados pela pobreza e reforçando-a, assim como a desigualdade, a fome, a doença, os conflitos e as catástrofes. A nível mundial, o princípio de "não deixar ninguém para trás" está em risco significativo.”
Deste excerto fica a ressoar na minha cabeça que o “Leave no one behind” (não deixar ninguém para trás) está em sério risco. Veja-se a imagem abaixo, onde predominam os tons laranjas e vermelhos, sinal de que o caminho está muito longe de ser alcançado.
E verdes, há verdes? Há sim! Há 5 verdes – que representam progresso feito e quase atingido o indicador. Esta mão cheia de indicadores representa, essencialmente, o aumento do uso de internet; o aumento do acesso a redes móveis, a industrialização inclusiva e sustentável, o acesso a pleno emprego e o aumento de partos assistidos.
Não se deixar ninguém para trás é um trabalho hercúleo, que implica que o poder político, seja local, regional, nacional, europeu, mundial, mas também a sociedade civil, a iniciativa privada, todos os setores e todos os atores sociais se envolvam e mobilizem na melhoria dos indicadores e concretização dos Objetivos. Não é fácil, pois conhecemos as dinâmicas e dificuldades, os egos e vaidades, a ansiedade pelos títulos de glorificação ou pelo “bota-abaixo”.
Seguramente que alguns dos grandes impulsionadores da evolução e concretização dos indicadores e dos ODS a nível mundial têm sido as Marcas.
Partilho abaixo alguns exemplos do esforço que têm feito:
- · A Beiersdorf anunciou o lançamento dos primeiros produtos da Nivea com neutralidade climática em cerca de 30 países. Portugal é um deles. As embalagens e tampas Nivea Naturally Good são feitas de plástico renovável e certificado.
- · A L'Oréal até 2020 tinha conseguido reduzir as emissões de CO2 em 82%, o consumo de água em 44% e o desenvolvimento de resíduos em 35% nas suas fábricas e centros de distribuição. Hoje tem fábricas neutras em carbono, embalagens 100% recicladas e frascos com menos vidro.
- · A Essity afirmava, já em 2020, que 64% da sua inovação resultava em melhorias ambientais e sociais. O exemplo social e ambiental impactante da roupa interior absorvente lavável ou a produção de papel tissue através de um processo sem emissão de CO2 são marcos históricos.
- · Apple: quem não assistiu ao primeiro vídeo-Relatório de Sustentabilidade protagonizado por Tim Cook, Lisa Jackson e Octavia Spencer? Neste vídeo, a Apple apresenta a primeira gama de produtos com neutralidade carbónica e fala da sua plantação de floresta e dos fornecedores da sua cadeia de abastecimento que estão comprometidos em usar energia renovável para toda a produção da Apple.
- · A Cerealis seleccionou 4 dos 17 ODS e implementou um conjunto de atividades para os concretizar, tais como: eficiência e redução de impactos ambientais em todas as unidades industriais e ao longo da cadeia de valor; apoio à produção local de cereais para estímulo da economia local e promoção da qualidade de alimentos 100% nacionais, 100% das embalagens de plástico serão recicláveis.
- · A sociedade da Água de Monchique (SAM) desenvolveu inúmeras atividades com vista à sustentabilidade ambiental e também a atingir a neutralidade e autossustentabilidade energética até 2025: consumo de energia de fontes renováveis, incorporação de 30% de rPET nas suas garrafas ou a introdução no mercado da primeira garrafa 100% reciclada e reciclável, são alguns dos exemplos.
Há mais, muitos mais exemplos – e que exemplos! – de mudanças e revoluções que as Marcas estão a implementar local e globalmente para concretizarem os ODS.
Saibam as pessoas e os poderes locais e globais apoiar estas mudanças e criarem condições para que as Marcas continuem a fazer evoluir o mundo no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Sem as Marcas, este caminho será impossível de percorrer.
Isto enquanto o relógio continua em contagem decrescente. Por isso, tic, tac, tic, tac, deixem as Marcas trabalhar!