ALMA DE MARCA
Ideias e Reflexões #paramarcasquemarcam
Opinião
SENIOR, SAPIENTIOR, MOBILIOR
Mais Velho, Mais Sábio, Mais Activo, no latim Senior, Sapientior, Mobilior, pode ser uma forma de condensar o que de mais relevante contém a percepção da longevidade nos tempos actuais.
TAGS

SENIOR, SAPIENTIOR, MOBILIOR

Mais Velho, Mais Sábio, Mais Activo, no latim Senior, Sapientior, Mobilior, pode ser uma forma de condensar o que de mais relevante contém a percepção da longevidade nos tempos actuais.

Participei há dias numa Conferência organizada pelo ECO e coordenada pela Ana João Sepúlveda, sobre Longevidade, Economia e Pessoas e ocorreu-me que quando ‘atacamos’ o tema da longevidade e, especialmente, o do envelhecimento, há sempre alguns pruridos quanto à terminologia a utilizar e que os próprios (onde já me incluo) e a sociedade em geral têm sempre uma certa dificuldade em identificar as pessoas com idades mais avançada: idosos, seniores, geração cinzenta,… Podemos, por exemplo, falar de envelhecimento, já é menos fácil falar de velhice, mas identificar alguém como ‘velho’ pode até ser sentido como impróprio ou, mesmo, insultuoso.

A propósito, pode assistir à Conferência AQUI e seguir o painel em que participei entre 01:17:00 e 01:36:00.

Não é necessário nenhum conhecimento científico especial para perceber, por exemplo, que uma pessoa de 80 anos da geração dos meus avós era muito mais velha do que uma pessoa de igual idade da geração dos meus pais e passaram apenas 25 anos. Seguramente, os nossos filhos terão uma melhor esperança e qualidade de vida que nós próprios. Em 2040, os oitenta serão efectivamente os novos sessenta.

É notável a evolução, no nosso país, da esperança de vida, do tempo de vida e da qualidade de vida nas últimas décadas.

A demógrafa Maria João Valente Rosa fez duas afirmações no painel em que também participei, que vale a pena reter: a primeira, em que referia que um primeiro grande salto na evolução da esperança de vida se fez nas décadas de setenta e de oitenta, no nosso primeiro ano de vida, com a fulminante redução da mortalidade infantil em Portugal, mas que, a partir daí, a evolução se tem feito na outra ponta do ciclo de vida, nas idades mais avançadas, obviamente por avanços médicos ou tecnológicos, mas muito especialmente por avanços de matriz social.

A segunda, mais ‘visual’, foi a de que qualquer bebé nascido hoje tem uma probabilidade de 50% de atingir os cem anos e que, como tal, o aumento da esperança média de vida em Portugal irá ainda avançar nas próximas décadas, até que chegará finalmente a um momento de desaceleração.

Socorrendo-me das palavras da Ana Sepúlveda, vale a pena recordar que o nosso país está, hoje, no Top 4 dos países mais envelhecidos (com maior percentagem de população acima dos sessenta anos) do mundo, mas também no Top 4 dos países com evolução mais rápida na esperança de vida da sua população. Ou seja, podemos sempre olhar para questão pelo ângulo do copo meio-cheio, como pelo do copo meio-vazio. Mas, qualquer que seja o ângulo de observação, nas sociedades mais evoluídas e em Portugal por maioria de razão, a Economia da Longevidade é um dos principais caminhos de crescimento da Economia, como um todo, e um factor muito relevante de promoção da sustentabilidade e da coesão social.

Uma vida mais longa, mais desperta e mais activa, implica o seu desdobramento num maior número de etapas ou de ciclos quando comparado com o percurso de vida que era feito há algumas décadas e que se mantém, ainda, como referencial para múltiplos indicadores e sistemas.

Basta pensar na alteração, ocorridas nas últimas décadas, da idade de início da vida activa, de constituição de família ou de nascimento do primeiro filho, ou, mais tarde, das separações e de constituição de segundas famílias mais tardias (por vezes intergeracionais) e agregados familiares com filhos com amplas diferenças de idade. Ou, a nível profissional, do deslizar da idade em que o auge da vida profissional é atingido,  das segundas vidas profissionais em idades mais avançadas ou do reforço da formação e das qualificações ao longo da vida activa.

Isto tem consequências a nível de Saúde e Bem-Estar, mas as implicações não se ficam, longe disso, por aqui.  Elas vão da área financeira à dos serviços, do urbanismo à habitação ou à mobilidade, da tecnologia ao lazer e passam pela educação e pela mobilidade e, obviamente, afectam os produtos, o consumo, as empresas e as marcas.

A Longevidade, do lado das nossas empresas e das nossas marcas, é e terá que ser uma matéria de atenção e prioridade máxima e deve ser conjugado com outros ângulos de abordagem do tema e do impacto da demografia nas nossas organizações, onde se juntam por exemplo os temas da Natalidade ou dos Movimentos Migratórios, com especial destaque pata a Imigração… não esquecendo que Portugal enfrenta um risco sério de erosão populacional.

Hoje as faixas etárias mais avançadas representam uma parcela cada vez importante do mercado, seja em número absoluto, seja em poder económico e aquisitivo, seja em poder prescritivo, pela sua forte influência no consumo e nas escolhas dos agregados familiares mais jovens a que se mantêm ligados.

São o segmento de crescimento mais rápido e que está, muito rapidamente, a ‘comer’ quota de mercado às restantes faixas etárias e as empresas. E as marcas dão cada vez maior atenção e investem cada vez mais – em inovação, em comunicação, em responsabilidade - na interacção com estes grupos de consumidores, sem que isso represente um fechamento no interior do segmento, sem que isso signifique uma menor atenção para os restantes grupos de consumidores.

Como referia há poucos dias num outro texto, as marcas são companheiras de viagem transgeracionais e acompanham-nos ao longo das nossas vidas.

Obviamente essa interacção alarga-se também ao seu próprio universo de colaboradores, seja no desenvolvimento de competências ao longo de toda a vida activa, seja preparando-os para os sucessivos desafios que o seu percurso profissional vai colocando, seja organizando equipas transversais e intergeracionais, seja conferindo qualidade, acompanhamento e dignidade à fase mais avançada, de abandono da vida activa.

Voltando às palavras da Ana Sepúlveda, a Longevidade altera a forma como nos vemos e nos sentimos, verificando-se uma crescente dissociação da idade cronológica da idade percebida, fazendo com que os mais velhos se sintam cada vez menos excluídos, menos desvalorizados e mais permeáveis à aquisição de novos conhecimentos, ao acesso às vantagens da digitalização, com uma crescente educação para a saúde ou uma maior literacia financeira.

Mas num futuro próximo, a ambição dos mais velhos será ainda mais ampla, tornando-se mais exigentes na reclamação dos seus direitos, alargando o seu leque de interesses e de actividades, esforçando-se por usufruir ainda mais das suas vidas, tornando-as mais activas, mais sábias, mais ricas.

Muitos se lembrarão do Lema do Movimento Olímpico Citius, Altius, Fortius, que em latim significa "mais rápido, mais alto, mais forte", uma expressão feliz da autoria do padre dominicano Henri Didon, um grande entusiasta do desporto e amigo próximo do Barão Pierre de Coubertin, fundador do Comitê Olímpico Internacional em 1894.

Quem sabe se este Senior, Sapientior, Mobilior passará a ser adoptado como um lema que associamos à Longevidade?