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PORTUGAL SENTE FALTA DO TURISMO. O GRANDE CONSUMO E AS MARCAS TAMBÉM…
Se há facto que parece inquestionável é o do ‘rombo’ que toda a crise sanitária associada ao Covid-19 provocou no turismo à escala global. No turismo de massas e no turismo de nicho
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PORTUGAL SENTE FALTA DO TURISMO.  O GRANDE CONSUMO E AS MARCAS TAMBÉM…

Se há facto que parece inquestionável é o do ‘rombo’ que toda a crise sanitária associada ao Covid-19 provocou no turismo à escala global. No turismo de massas e no turismo de nicho. No turismo de lazer e no turismo de negócios. E se isso é verdade em todas as partes do mundo, a relevância é ainda maior quando, como no caso português, a dependência sócio-económica em relação ao turismo é muito elevada.

Antes da pandemia, Portugal foi eleito o Melhor Destino Turístico europeu durante três anos consecutivos pelos World Travel Awards e o turismo representava, directa e indirectamente, cerca de 14% do nosso PIB.

Em 2019 foram registados 27,0 milhões de hóspedes dos quais, 16,3 milhões de hóspedes estrangeiros. Isto correspondeu a mais de 70 milhões de dormidas, das quais quase 50 milhões de estrangeiros, significando que, em média, cada turista estrangeiro dormiu três noites e passou quatro dias no nosso país, o que equivale a que, também em média, todos os dias estiveram em Portugal quase 200 mil turistas.

Ou seja, o equivalente a dois por cento da população nacional, não se devendo esquecer que, enquanto turistas, apresentam uma predisposição para o consumo superior à dos shoppers no seu dia-a-dia, e que no caso concreto dos que nos visitam, possuem um poder de compra que ultrapassa, na maior parte dos mercados emissores, em mais de 50% o poder de compra equivalente dos consumidores nacionais. Em 2019 estimava-se que o turismo pudesse representar quase 5% das vendas efectivas do sector do grande consumo.

Foram dez anos de crescimento contínuo que fizeram elevar – no caso português - as receitas do turismo dos 7,6 mil milhões de receitas em 2010 para os 18,4 mil milhões em 2019, com uma taxa média de variação anual, nesses nove anos, de 10,3% e ao longo desses dez anos, o turismo teve um impacto direto a muitos níveis: criação de emprego, criação de novos negócios, melhoria significativa dos padrões de alojamento e restauração, recuperação urbanística, investimento privado e valorização da oferta cultural e social e Portugal conseguiu incrementar os patamares de receita média por turista para valores superiores aos registado em mercados concorrentes, como Espanha, Grécia ou Itália

Contudo, o ano passado, 2020, e, certamente também 2021, são como que um anti-clímax, com um fortíssimo retrocesso de visitantes e das receitas por eles geradas.

Estes dois anos, são, de acordo com diferentes fontes, a começar pela Organização Mundial do Turismo (OMT), os piores anos desde que há registo, com um decréscimo das chegadas internacionais superiores a 70%. Os vários destinos mundiais viram chegar, em 2020, menos mil milhões de passageiros internacionais por comparação com 2019, dadas as diversas restrições às viagens e a uma quebra inimaginável na procura.

Em 2020, como efeito da pandemia, Portugal registou apenas 25,9 milhões de dormidas, menos 63 por cento em relação a 2019 e um retrocesso a valores observados em 1994. E essa quebra foi ainda mais sensível nas dormidas de turistas estrangeiros: somente 12,3 milhões de dormidas, menos 75% do que no ano anterior.

Tudo isto implicou em 2020, a nível de receitas, um decréscimo de quase 60% face a 2019, significando uma perda de 10 mil milhões de euros para a economia nacional.

Todos os sectores de actividade foram e estão a ser directa e indirectamente impactados e o grande consumo e as marcas foram altamente prejudicados com este estado de coisas.

Pela via do retrocesso das compras directas dos seus produtos realizadas pelos turistas nos mais diversos tipos de estabelecimento comerciais. Pela via da quebra das compras dos seus produtos em retalhistas e grossistas efectuadas por hotéis, restaurantes, confeitarias e cafés para serviço aos turistas. Pela via do decréscimo das vendas directas pelos fornecedores a esses mesmos locais de venda.

E não foram apenas as bebidas, alcoólicas e não alcoólicas, ou os cafés. Foram o arroz, as batatas, as massas ou os vegetais, a carne e o peixe, os detergentes, os shampoos, as pastas dos dentes ou as lâminas de barbear. O impacto, embora diferenciado, é transversal a todas as categorias do grande consumo e afecta muito negativamente o universo das marcas.

É, pois, muito importante recuperar os turistas e o turismo, criar condições de atracção para que os estrangeiros nos voltem a visitar em força (embora com regras). Dar garantias de segurança de circulação e sanitária, sem quebrar a exigência ao nível de hospitalidade e qualidade de serviço. E se possível com melhores patamares de preço e de remuneração, para que o impacto do turismo na economia tenha um verdadeiro efeito multiplicador e transversal.

E sem nunca esquecer que o turismo significa exportação e que quem nos visita, quem reconhece e aprecia a experiência no nosso país e os produtos que aqui consome, pode ser um consumidor preferencial e mesmo um embaixador desses mesmos produtos e das respectivas marcas nos seus mercados de origem… consigam as marcas portuguesas e outras marcas presentes no mercado português chegar de forma consistente a esses mesmos mercados.