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NAS COSTAS DOS OUTROS…
Desde o final de janeiro e durante quase dois meses estaremos a fazer uma ronda pelas nossas empresas associadas (e não só) para apresentar as principais marcas que as dinâmicas do mercado deixaram no universo FMCG ao longo de 2023 e...
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Desde o final de janeiro e durante quase dois meses estaremos a fazer uma ronda pelas nossas empresas associadas (e não só) para apresentar as principais marcas que as dinâmicas do mercado deixaram no universo FMCG ao longo de 2023 e que perspectivas podem ser apontadas para o ano que começou ainda há pouco.

Habituados que estamos a antecipar problemas e dificuldades, há momentos que os sinais se conjugam e que nos levam a transmitir uma mensagem mais positiva, longe do ‘optimismo irritante’ que nos habituamos a receber do meio político, mas – ainda assim – com consistência suficiente para alertar que uma inversão de ciclo se aproxima e que depois de dois anos de pandemia e de outros dois de disrupção das cadeias de abastecimento e de fortíssima pressão inflacionista, melhores tempos se estarão a aproximar. Ao jeito de que depois da borrasca, poderá chegar alguma bonança.

No entanto, a concretização de muitos desses sinais depende de um contexto económico que ultrapassa largamente as nossas fronteiras e, desta forma, nada melhor do que dar uma maior atenção às projecções económicas, sua evolução e riscos que lhes são apontados, para perceber se o puzzle que vamos construindo faz (ou não) sentido.

Como diz o provérbio, nas costas dos outros vemos as nossas…

A Euromonitor, por estes dias, indicava que ode haver uma desaceleração um pouco maior do que o previsto da economia internacional, com a projecção do PIB global a fixar-se nos 2,7%, havendo efeitos retardados a nível das taxas de juro e pressões que continuam a existir sobre várias ‘famílias’ de custos. As expectativas são mais positivas para a segunda metade de 2024, com a desaceleração da inflação, o afrouxamento das políticas monetárias e uma recuperação de dinamismo que se prolongará para 2025.

No entanto aquela previsão de crescimento corresponde ao cruzamento de realidades bem distintas: crescimento forte nos EUA e vigoroso em grande parte das economias emergentes, evolução débil na Eurozona, dificuldades na China, regressão no Japão.

A zona da Ásia-Pacífico continuará a ser o principal motor das perspectivas económicas globais, apesar dos desafios na China, sendo a Índia continua a ser a grande economia com crescimento mais rápido em 2024, com 6,1%, com base nas projeções do primeiro trimestre. Países como o Vietname e as Filipinas crescerão acima dos 5%.

Aquela consultora apresenta como principais riscos as Tensões Geopolíticas, com potenciais perturbações decorrentes da guerra entre Israel e o Hamas, perturbações no transporte marítimo no Mar Vermelho, as quais podem criar vulnerabilidades comerciais e algumas situações de escassez de oferta. A guerra em curso na Ucrânia também poderá levar a um novo aumento nos preços globais das matérias-primas se as tensões aumentarem.

Acresce os Desafios colocados pela China, com o respectivo mercado imobiliário a permanecer instável e a poder dar origem a uma crise mais profunda face aos riscos de incumprimento contínuos das principais empresas do sector, o que poderia adicionar danos há já difícil situação do país. Bem como Taxas de Juros Altas por mais tempo, sendo que políticas monetárias restritivas são um factor claro de abrandamento económico mais acentuado do que o esperado. E chama ainda a atenção para os perigos de Sobreendividamento, com a possibilidade de uma crise de dívida em espiral, mais provável num ambiente de elevados custos de financiamento.

Assim, para a Euromonitor, o cenário mais negativo para a economia é a fragmentação global, dando origem a custos mais elevados para as empresas e um acesso mais dificultado aos mercados, levando os consumidores a enfrentar preços mais altos e a limitações nas suas opções de compra. As restrições à produção e à exportação de matérias-primas devido às alterações climáticas e ao proteccionismo também aumentam o risco deste cenário.

Os riscos de estagflação – actividade económica estagnada combinada com inflação elevada – apesar de agora menos prováveis com a desaceleração da inflação é outro cenário que prejudica as perspectivas económicas globais.

Entretanto, a Zona Euro continuará a registar um desempenho fraco em 2024, esperando-se uma recuperação mínima, com a revisão em baixa do crescimento real do PIB para 0,8% no ano, situando-se ligeiramente acima do crescimento de 0,6% registado em 2023. Uma política monetária mais restritiva e uma inflação ainda relativamente elevada enfraquecem a procura, o que se reflecte nas previsões atuais.

A inflação poderá diminuir a um ritmo mais lento devido às persistentes pressões sobre os preços provenientes dos mercados de trabalho restritivos e de um sector energético volátil. Também na Eurozona, as tensões geopolíticas aumentam a probabilidade de um cenário de estagflação global, sendo os riscos sobre os preços especialmenre provenientes do sector da energia.

Apesar de tudo, aquela conceituada consultora aposta que a dinâmica de crescimento poderá acelerar ao longo do ano, à medida que a inflação diminui, as taxas de juro caem e a procura externa recupera. Mas estes desenvolvimentos dependem amplamente do ambiente externo.

Entretanto, também na semana passada a Comissão Europeia apresentou as suas projecções de Inverno, com previsões a nível de PIB, de Inflação e de Riscos Potenciais relativamente próximas das da Euromonitor. Bruxelas refere que os mínimos de confiança foram já ultrapassados, embora se mantenham anormalmente baixos em áreas como as da construção, do retalho ou entre os consumidores.

A fraca procura confirmou-se como o factor de maior impacto que leva à limitação da produção, enquanto a escassez de materiais e equipamentos é muito menor do que em períodos anteriores. Por outro lado, a escassez de mão-de-obra está a diminuir gradualmente, mas ainda é significativa e a utilização da capacidade instalada, na indústria transformadora manteve uma tendência geral descendente que é sentida já desde meados de 2021.

O indicador de novas encomendas registou um ligeiro aumento, as expectativas de exportação estabilizaram, o enfraquecimento dos fluxos de encomendas cessou e há perspectivas positivas para o investimento em 2024, embora, por norma, destinado a fins de substituição e a uma progressiva adaptação tecnológica. Em sentido distinto, o crescimento do consumo continua a ser travado – no conjunto da União Europeia - por uma elevada taxa de poupança., sendo que a taxa de poupança diminuiu ligeiramente no final de 2023, mas permanece acima da média pré-pandemia.

De acordo com a Comissão Europeia, as perspectivas para os primeiros meses de 2024 permanecem moderadas, mas as condições para uma aceleração progressiva da actividade económica ao longo do ano parecem ainda existir. O crescimento dos salários reais e o emprego resiliente deverão apoiar uma recuperação do consumo e, para além disso, espera-se que a procura externa da UE se normalize. Por isso, todas as economias dos Estados-Membros deverão regressar ao crescimento em 2024.

Em relação à inflação espera-se uma trajectória descendente mais rápida do que se previa há ainda poucos meses, com os preços presentes e futuros dos produtos energéticos consideravelmente abaixo dos projectados no início do Outono passado. A diminuição das pressões sentidas ao longo de 2023 e a redução dos custos dos factores de produção nas indústrias alimentares e de bens industriais deverão continuar a sustentar a desaceleração dos preços dos bens não energéticos. A curto prazo, porém, as perturbações comerciais no Mar Vermelho poderão abrandar o processo desinflacionista no curto prazo.

Também em Bruxelas se alerta para os riscos associados às tensões geopolíticas. A prolongada guerra entre Rússia e Ucrânia continua a ser uma importante fonte de incerteza para a economia da EU e a extensão do conflito no Médio Oriente até ao Mar Vermelho está a alimentar tensões geopolíticas adicionais e já a adicionar alguma pressão ascendente sobre os preços, sendo que nova escalada poderá renovar a pressão sobre as cadeias de abastecimento, prejudicando a produção global e aumentando as pressões sobre os preços dos bens comercializáveis, com os produtos energéticos a sentirem alguma vulnerabilidade.

A outro nível, a economia chinesa atravessa um momento crítico, o que poderá ter repercussões negativas no crescimento da economia da UE, mas, simultaneamente, pode ajudar a aliviar a pressão sobre os preços dos produtos energéticos. Do lado americano e para além do aquecimento da economia, há que equacionar o impacto das eleições de Novembro, sendo que a Comissão Europeia chama a atenção que 2024 será um ano histórico em termos do número de pessoas em todo o mundo que votam nas eleições, com a incerteza política a pesar no sentimento dos investidores.

Relativamente a Portugal, estas Projecções de Inverno referem a recuperação económica sentida no último trimestre do ano passado, num contexto de ligeira recuperação do sentimento económico e de um crescimento sólido do emprego. O PIB terá aumentado 0,8% no quarto trimestre de 2023, após ter diminuído 0,2% no trimestre anterior. Em termos anuais, o crescimento económico abrandou para 2,3% em 2023, justificado pela menor dinâmica pelo consumo privado e pelo investimento, reflectindo o impacto de taxas de juro mais elevadas. Contudo, na segunda metade do ano, tanto o consumo como o investimento recuperaram, enquanto o contributo das exportações líquidas para o crescimento se tornou negativo, devido ao crescimento mais fraco do turismo estrangeiro e a uma queda nas exportações de bens.

Dada a fraca procura por parte dos principais parceiros comerciais, prevê-se que o crescimento económico permaneça moderado no início de 2024 e só aumente gradualmente na segunda metade do ano, enquanto o consumo privado deverá beneficiar de um aumento consistente de emprego e salários, havendo ainda dúvidas quanto à desaceleração dos juros hipotecários. A implementação em curso do PRR continuará a apoiar o investimento e, externamente, as importações deverão superar as exportações.

A inflação desacelerou consideravelmente ao longo de 2023, passando de um pico de 10,2% no quarto trimestre de 2022 para 2,4% no último trimestre de 2023, empurrados pelos preços da energia e, posteriormente, pelos produtos alimentares e industriais não energéticos. Prevê-se que a inflação registe uma nova descida ao longo de 2024. De acordo com a Comissão Europeia, nos primeiros meses do presente ano, o processo de desinflação deverá ser temporariamente atenuado por efeitos de base no setor energético e pelo restabelecimento das taxas normais de IVA para produtos alimentares essenciais. Em suma, prevê-se que a inflação anual medida pelo IHPC diminua de 5,3% em 2023 para 2,3% em 2024 (e para 1,9% em 2025), valores inferiores às previsões do outono passado.