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Opinião
LONGEVIDADE: O CAMINHO PARA A MATURIDADE SAUDÁVEL
A dimensão e força de mercado dos maiores de 60 converte-os de nicho em players essenciais e há cada vez mais propostas, apresentadas por empresas dos mais diferentes sectores (e dimensões), dirigidas para esta faixa etária. E não se deve esquecer, t
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O nosso envelhecimento é inexorável. Começa no dia em que nascemos e prossegue em todos os dias da nossa mais ou menos longa existência.

Há quem conviva bem com o que cada fase da vida nos oferece. Há quem reaja mal à curva a que a vida nos conduz e queira recuperar o que considera o tempo perdido, a juventude perdida, a beleza perdida.

Mas, em boa verdade, a construção da longevidade, ou se quisermos de um envelhecimento progressivo, suave e saudável começa bem cedo, começa no conseguir desfrutar do que cada período nos proporciona, mas também no preparar tranquilamente os meios para enfrentar as dificuldades e obstáculos que uma vida mais longa acabará por colocar no nosso caminho.

Há ainda hoje uma grande dificuldade em falar do envelhecimento e, mais ainda, da velhice.

Mas estamos a falar de factos que, não obstante a conotação negativa que muitas vezes lhe damos, trazem consigo uma história muito positiva que, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, fomos construindo ao longo de séculos. Sendo que o crescimento da esperança de vida e da qualidade de vida associada a essa fase mais avançada teve uma enorme aceleração nas últimas décadas.

Como finalmente se terá começado a percepcionar (apesar dos dados o ‘afirmarem’ desde há muitos anos), Portugal está no pódio dos países mais velhos da Europa e no Top 10 dos países mais velhos do mundo.

E qualquer que seja a leitura, esse facto tem implicações negativas para o país, para a sociedade, para a economia.

Temos, actualmente, uma quase saturação de conversas e trocas de argumentos em torno da sustentabilidade, ao ponto da palavra, agora, se ter convertido num chavão demasiadas vezes despido de conteúdo. Fala-se, muito, de sustentabilidade ambiental. Fala-se, menos, de sustentabilidade económica e sustentabilidade social. Mas não se fala, nunca, de sustentabilidade demográfica.

Já o escrevi, mais do que uma vez, mas vale sempre a pena insistir… Se nada for alterado, o balanço natural entre nascimentos e mortes no nosso país fará com que os actuais 10,3 milhões de habitantes em Portugal se reduzam para pouco mais de 6 milhões daqui até ao final do presente século.

Esse balanço apenas será parcialmente compensado se conseguirmos receber e integrar na nossa sociedade um elevadíssimo número de imigrantes. Os estudos mais recentes falam de 2,5 milhões de habitantes provenientes de outros países que chegarão e que conduzirão a população do país, em 2100, para números na ordem dos 8,5 milhões de pessoas. Ou seja, menos 1,8 milhões de pessoas do que a nossa população actual.

Uma realidade, ainda assim, assustadora, mas que teimamos em não olhar, não absorver e não discutir.

Mas mesmo para conseguir chegar a esse ‘purgatório’ demográfico há que mudar o actual estado de coisas.

Precisamos de criar condições para que quem aqui nasça, aqui continue a viver e de conseguir estancar a sangria emigrante que já não se resume a quem foge das fortes dificuldades económicas do país, como aconteceu em determinados períodos, alguns bem recentes, da nossa história. Sendo que o problema agora se alastra aos que, bem preparados, saem, ano após ano, das nossas escolas, mas não encontram na nossa economia (mas também no nosso pesadelo fiscal) espaço para crescer, se afirmar profissionalmente e viver condignamente.

E precisamos de criar condições para atrair cidadãos de outros países, não apenas os que procuram a sobrevivência e um mínimo de segurança e qualidade de vida, não apenas aqueles que querem passar no nosso sol, na nossa tranquilidade e simpatia, os estádios mais avançados das suas vidas. O desafio é ‘conquistar’ pessoas em idade activa, preparadas para o contexto profissional em que vivemos e para que queremos evoluir e que encarem seriamente a possibilidade de aqui se fixarem e não de fazer apenas de Portugal o mero trampolim para um destino melhor.

Por isso, à sustentabilidade demográfica temos de adicionar a inclusão demográfica, uma inclusão que enquanto país, enquanto sociedade e enquanto economia, reforce a capacidade de oferecer uma existência digna e atractiva aos mais velhos e a quem escolhe Portugal para seu país de adopção, e essa inclusão abrange, obviamente, os produtos, os serviços e a qualidade de serviço que lhes disponibilizamos.

Numa sociedade em que cada vez temos vidas mais longas, mas também mais preenchidas, a construção da longevidade, nas suas diferentes vertentes, rumo a uma maturidade saudável, será sempre a arma mais eficaz para combater o que poderíamos apelidar de envelhecimento tóxico, o envelhecimento que como uma armadilha nos empurra para um final de vida sem objectivos, sem qualidade de vida e sem dignidade,

As nossas prioridades vão-se alterando ao longo da vida e vão se reforçando com o passar dos anos. Com o avanço da idade, as nossas preocupações vão-se focando nos aspectos da saúde, da mobilidade e da autonomia, da disponibilidade e proximidade da família, da maior atenção ao essencial e da menor paciência em relação ao supérfluo ou ao acessório, do combate à solidão e, claro, de uma maior literacia e educação, de uma maior preocupação com as rotinas e com a simplificação das obrigações do dia-a-dia.

Na verdade, uma boa longevidade ainda está demasiado agarrada a uma boa disponibilidade financeira e para muitos portugueses, o nível de vida é ainda excessivamente baixo para que a maior parte dos indivíduos e das famílias possa preparar adequadamente o futuro e as etapas mais avançadas da vida. E, ao mesmo tempo, a sociedade está excessivamente focada no presente, deixando o indivíduo isolado na preparação do futuro

Do lado das empresas, não obstante haver ainda um largo e longo caminho a percorrer, são cada vez mais os produtos que acompanham as diferentes fases da vida e se há marcas focadas na população mais jovem, outras há que apostam nos segmentos mais maduros. Mas, mais relevante, são cada vez mais as marcas que desenvolvem dinâmicas transversais, seja com produtos multigeracionais, seja com referências dentro do mesmo umbrela marca destinados a diferentes grupos-alvo, porque, como tantas vezes referimos, as boas marcas são companheiras de viagem.

E a ideia de que o marquismo é geracional esbarra nas prioridades de cada fase da vida e nas marcas que lhes estão mais umbilicalmente associadas. Multiplicam-se hoje os investimentos ao nível de propriedades nutricionais, embalagem, conveniência e até de comunicação e mesmo quando eles são mais especificamente focados em grupos-alvo mais maduros, não deixam, por isso, de facilitar a vida e melhorar a qualidade de vida de indivíduos de todos os restantes segmentos etários. Em boa verdade, a segmentação utilizada actualmente é muito mais comportamental do que etária ou socio-económica.

Apesar disso, a dimensão e força de mercado dos maiores de 60 converte-os de nicho em players essenciais e há cada vez mais propostas, apresentadas por empresas dos mais diferentes sectores (e dimensões), dirigidas para esta faixa etária. E não se deve esquecer, também, o papel de prescritor, mas também de ‘financiador’, que cabe aos mais seniores que, muitas vezes, ‘alojam’ filhos e netos e contribuem para as compras das gerações seguintes

A transição geracional, por outro lado, faz com que muitos dos maiores de 60 de hoje sejam pessoas muito mais activas, educadas, com literacia financeira, digitalizadas, com práticas de saúde e bem-estar do que há duas ou três décadas atrás… e a cada ano a substituição etária vai reforçar essa tendência.  Sem nunca esquecer que debaixo do mesmo ‘chapéu’ etário se albergam pessoas com realidades e personalidades muito distintas e que, também aqui, as generalizações são excessivas e perigosas, sendo que a combinação entre saúde e bem-estar, mobilidade, actividade, desafio, capacidade financeira… cria uma miríade de nichos seniores

E que há medida que o mercado observa os seniores com um grupo de elevado potencial de compra e de consumo, ultrapassa rapidamente o minimalismo saúde/funcionalidade para abrir caminho a novas propostas, havendo hoje novos produtos e serviços dirigidos especificamente para os maiores de 60, enquanto se observa um alargar do espectro de abrangência de muitos outros produtos para também integrar os consumidores mais maduros.

Estamos, pois, todos convocados para sermos operários especializados no processo de construção de uma longevidade digna e de um envelhecimento saudável, nunca esquecendo que se não o somos já, temos a expectativa positiva de vir a ser os seniores activos do futuro.