Fazer compras de alimentos, bebidas ou produtos de higiene corresponde a uma necessidade diária ou quase diária em todas as famílias e a variação dos preços dos produtos pode ter um impacto significativo no nosso dia a dia.

Com o aumento da inflação e a redução do poder de compra, é crucial compreender como estes factores afectam os preços no grande consumo e o comportamento do consumidor. Este é pressuposto de um interessante artigo de Aaron Danielle, no site Global Supermarket News.

A inflação refere-se ao aumento geral dos preços ao longo do tempo, resultando numa diminuição do rendimento disponível e do poder de compra. Quando a inflação sofre um agravamento mais pronunciado, os consumidores têm de gastar mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de produtos que costumavam comprar por um menor valor.

O impacto da inflação nas compras no grande consumo pode ser visto de várias maneiras. Em primeiro lugar, os preços das matérias-primas e ingredientes e outros factores, como a energia, utilizados na produção aumentam, conduzindo a custos de produção mais elevados para os fabricantes. Este aumento dos custos é então repassado aos seus clientes, que por seu lado os repassam aos consumidores na forma de preços mais elevados. Para além disso, os custos de transporte e outras operações ao longo da cadeia de abastecimento também aumentam devido à inflação, o que contribui ainda mais para o aumento dos preços, obrigando os consumidores a ajustar os seus orçamentos e hábitos de compra para fazerem face aos custos mais elevados.

Não surpreende, pois, que o aumento dos preços tenha um impacto significativo nos hábitos de compra e no comportamento do consumidor, especialmente quando se trata de compras rotineiras de supermercado. Uma das alterações mais usuais nos hábitos de compra devido ao aumento dos preços é a mudança para a compra de alternativas mais baratas ou marcas próprias na tentativa de economizar dinheiro e como resposta a uma consciência acrescida dos preços dos produtos que adquirem.

A psicologia associada aos aumentos de preços também desempenha um papel no comportamento do consumidor. Quando os preços sobem, os consumidores podem sentir uma sensação de perda ou privação, levando-os a fazer escolhas diferentes. Por exemplo, eles podem optar por comprar quantidades menores ou reduzir totalmente determinados itens. Este comportamento é impulsionado pelo desejo de manter um sentido de controlo sobre os seus gastos e evitar a sensação de serem manietados por preços mais elevados.

Em períodos de crise económica ou recessão, os consumidores tendem a ser mais cautelosos com seus gastos e buscam formas de economizar dinheiro, tendem a priorizar a aquisição de produtos essenciais e reduzir compras discricionárias. É também normal que os consumidores estejam mais atentos às comparações de preços e aproveitem descontos ou promoções para esticar, na medida do possível, os seus orçamentos.

A fidelidade à marca associa-se à tendência dos consumidores de escolher consistentemente uma determinada marca em detrimento de outras. No contexto das compras de supermercado, a fidelidade à marca pode ter um importante impacto na capacidade dos consumidores de lidar com o aumento dos preços.

Os consumidores leais a uma determinada marca podem estar dispostos a pagar mais pelos produtos dessa marca, mesmo que os preços aumentem e essa lealdade geralmente baseia-se na confiança, na familiaridade e na qualidade percebida. Ao manterem a sua marca preferida, os consumidores podem sentir-se mais confiantes nas suas decisões de compra e evitar a incerteza de experimentar produtos novos ou desconhecidos.

Mas num cenário de poder de compra encurtado, a fidelidade à marca pode ser mais difícil de manter. Se os consumidores não estiverem dispostos a mudar para alternativas mais baratas ou a explorar outras marcas, poderão perder potenciais poupanças ou não conseguir satisfazer outras necessidades face a um rendimento disponível menor. Ao estarem abertos a experimentar diferentes marcas ou as marcas próprias, os consumidores podem encontrar produtos satisfatórios a preços mais baixos.

Num ambiente de custos elevados, os consumidores tendem a procurar um equilíbrio entre a fidelidade à marca e a consciência dos custos. Ao estarem abertos à exploração de diferentes opções e ao considerarem uma mais pragmática relação qualidade/preço, os consumidores podem tomar decisões informadas que se alinham com o seu orçamento e que se aproximam o mais possível das suas preferências.

Assim, parece bastante provável prever que o futuro das compras de produtos de grande consumo será moldado por um conjunto diversificado de fatores, incluindo o aumento dos preços, os desenvolvimentos tecnológicos e as mudanças nas preferências e dos hábitos de compra dos consumidores. Alguns desses factores referem-se a:

§  Maior ênfase na sustentabilidade - à medida que as preocupações ambientais se mantêm em crescendo, é provável que haja uma maior atenção às componentes da sustentabilidade no universo FMCG e que os consumidores possam dar crescente preferência a embalagens ecológicas, produtos de origem local e à redução do desperdício.

§  Incorporação dos desenvolvimentos tecnológicos -  é expectável que a tecnologia venha a desempenhar um papel significativo no futuro das compras de grande consumo, incluindo o uso de inteligência artificial para recomendações personalizadas, carrinhos de compras inteligentes que rastreiam as compras e fornecem informações nutricionais e sistemas de checkout automatizados.

§  Desenvolvimento de serviços online e de entrega – não obstante o retrocesso actual da penetração da compra online no sector do grande consumo, as plataformas de compras online e de entregas em casa tenderão a conquistar novos utilizadores, a gerar uma maior repetição e a alargar o valor do ticket a cada compra, e os consumidores terão uma confiança crescente nestes serviços para obter benefícios de conveniência e de economia de tempo, e de custos associados à mobilidade.

§  Foco acrescido na saúde e no bem-estar - com este crescente interesse o futuro das compras no sector do grande consumo poderá ter um foco acrescido em produtos orgânicos, naturais e funcionais, sendo que os consumidores tenderão a priorizar produtos que ofereçam benefícios para a saúde ou atendam a necessidades dietéticas específicas.

E é natural que os consumidores procurem reforçar o seu nível de informação sobre as tendências do setor, que adoptem novas tecnologias que lhes permitam aceder a dados sobre produtos, soluções que os incorporem e, por exemplo, comparações de preços, e que estejam abertos a experimentar novos métodos de compra.

Adaptando-se às novas circunstâncias e reforçando a sua proactividade, os consumidores podem acompanhar, com claros benefícios, as dinâmicas do universo do grande consumo e melhorar a sua experiência de compra e de consumo

NOTA: comungando amplamente das ideias do autor, este artigo é, em larguíssima medida, uma adaptação encurtada e colocada no prisma FMCG do texto que referencio acima.