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Opinião
HÁ SINAIS DE ABRANDAMENTO NA TEMPESTADE INFLACIONISTA?
Depois de semanas seguidas de chuvas fortes e tempo com má cara, a primeira semana de Janeiro presenteou-nos com dias frios mas ensolarados e, foi fácil perceber, que a disposição de muitas pessoas melhorou substancialmente...
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Depois de semanas seguidas de chuvas fortes e tempo com má cara, a primeira semana de Janeiro presenteou-nos com dias frios mas ensolarados e, foi fácil perceber, que a disposição de muitas pessoas melhorou substancialmente. Mas foi, provavelmente, um pequeno oásis de bonança em semanas que se antecipam de mau tempo e de um Inverno rigoroso que iremos vivendo até que a Primavera, esperamos todos, chegue e nos traga de volta o sol e o conforto de que tanto gostamos.

Também esta semana foram sendo conhecidas várias notícias que parecem mostrar alguma acalmia na tempestade inflacionista, mas fica ainda a dúvida se esses sinais se consolidarão ou se estamos apenas no tal ‘oásis’ que antecede um novo conjunto de más notícias.

Não sou, por norma, um optimista convicto, mas confesso que, mesmo não tendo a veleidade de me considerar um especialista, julgo ‘ler’ alguns indícios de que a desaceleração está realmente em curso e que podemos esperar por melhores notícias, em especial a partir do próximo mês de Março.

É verdade que estes primeiros dias do ano trazem sempre o bónus das actualizações (em alta, claro) dos preços de diversos serviços públicos ou regulados administrativamente. Este ano com percentuais de crescimento mais altos do que é usual (o que nada tem de surpreendente), mas não deixa de corresponder a algo que acontece, nesta altura, ano-após-ano. E, sim, provavelmente provocará algum abrandamento na redução da taxa de inflação homóloga para o primeiro mês de 2023.

No entanto, há diversas (e relevantes) informações que parecem apontar para uma direcção distinta…

Desde logo, a inversão da curva dos custos com energia e combustíveis. Há ajustamentos a nível de consumo, da utilização de fontes renováveis e de origens de aprovisionamento. Há uma menos gritante percepção de escassez e de um Inverno muito desconfortável nos países mais frios do Norte e Leste Europeu. E isso provoca uma menor pressão da procura e um abrandamento dos movimentos especulativos.

Na passada sexta-feira o Barril de Brent estava cotado a menos de 80$ e o gás natural fixou-se a 3,72§/MMBtu, ambas cotações em nível inferior às que se verificavam antes do início do conflito na Ucrânia.

As matérias-primas agrícolas, apesar de continuarem de forma sustentada com níveis de preços elevados, já tiveram um amplo recuo dos picos do 2.º trimestre de 2022 e reposicionaram-se a níveis relativamente próximos dos de final de 2021. E as perspectivas para a campanha agrícola são menos negativas do que há meses atrás.

Por outro lado, os fretes nos transportes internacionais estão a sofrer uma acelerada redução e ainda esta semana era notícia que os preços dos fretes marítimos já haviam caído 80%, com a AGEPOR (a Associação dos Agentes de Navegação de Portugal) a identificar a retração do consumo e o fecho de fábricas na China para a diminuição de valores como justificações relevantes para essa quebra.

Entretanto, a estimativa rápida do Eurostat, divulgada no final da semana passada, apresenta uma taxa de inflação homóloga na zona euro de 9,2%, mostrando abrandamento pelo segundo mês consecutivo, e situando-se 90 pontos base abaixo da taxa de novembro (de 10,1%).

Portugal mantém a sua taxa em patamar superior à média da zona euro, mas isso não invalida um abrandamento relevante no mês passado (sendo o sexto país com a maior correcção).

De acordo com os dados publicados em Bruxelas, o sector energético mantém-se – na zona euro - como aquele com o maior aumento de preços, registando uma taxa de inflação homóloga de 25,7%, mas bem abaixo dos 34,9% registados em novembro. A seguir surge a componente da alimentação, álcool e tabaco, com uma taxa de inflação de 13,8% contra 13,6% em novembro; e de bens industriais não energéticos (6,4%) e serviços (4,4%), sendo que nestas parcelas o abrandamento apenas deverá ocorrer nos primeiros meses de 2023.

Analistas contactados pela comunicação social, referem que a inflação já mostra sinais de abrandamento nos EUA e é provável que esta tendência se mantenha, com diminuições nos preços das matérias-primas e, muito importante, com o aliviar dos constrangimentos na área da logística, em consequência do progressivo ajustamento das empresas a este novo cenário, com reflexo na evolução dos preços dos transportes.

Para além deste efeito económico de ajustamento, haverá também que adicionar o efeito matemático puro… A partir de Março, as comparações serão feitas face a meses em que o crescimento de preços foi já muito significativo. Haverá, assim, uma compressão aritmética das taxas homólogas, bem como uma maior colagem entre taxa média e taxa homóloga (que se têm vindo a aproximar, mas que em Dezembro ainda distavam quase dois pontos percentuais) e isso terá também algum efeito psicológico.

Pode parecer um pouco infantil a referência, mas convém não esquecer que taxas de inflação menores não reflectem qualquer redução efectiva do nível médio de preços, mas apenas um menor crescimento dos preços face ao período objecto de comparação e que taxas de 5,8%, como projecta o Banco de Portugal ou de 4% como o Governa apresenta nas Grandes Opções do Plano para 2023, significarão que os preços, no final do corrente ano, se situarão num patamar de entre mais 12% a mais 14% em relação aos que se verificavam em finais de 2021.

E é em cima destes referenciais de inflação que o mercado, mesmo que menos pressionado, se terá de movimentar, é por comparação com estes referenciais de inflação que se deverá avaliar a efectiva perda de poder de compra do consumidor e antecipar o correspondente impacto no seu comportamento de consumo.