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Opinião
EVOLUÇÃO DA PAISAGEM DO RETALHO EM PORTUGAL
De acordo com informação recolhida pelo Sales Index da Marktest, existiam em Outubro passado, em Portugal, um total de 4.205 espaços comerciais de três dezenas e meia de insígnias da grande distribuição.
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De acordo com informação recolhida pelo Sales Index da Marktest, existiam em Outubro passado, em Portugal, um total de 4.205 espaços comerciais de três dezenas e meia de insígnias da grande distribuição.

Como indica aquela fonte, o Pingo Doce, com 470 lojas, é agora a insígnia com maior rede, presente em 164 dos 308 concelhos do país. O Minipreço, depois do recente redimensionamento da sua rede, com o encerramento das lojas Clarel, baixou à segunda posição, com 442 lojas, espalhadas por 176 concelhos. Na terceira posição, está a rede de franchisados do grupo Jerónimo Martins, as lojas Amanhecer, com 416 lojas em 172 concelhos.

E, refere também a Marktest, se àquelas três insígnias juntarmos as redes detidas pela Sonae - Continente, Meu Super e Wells – ultrapassamos as 2.200 lojas, quase 53% do total de espaços da moderna distribuição.

Apenas em 10 dos 308 concelhos (sendo metade no arquipélago açoriano), não existe nenhuma loja destas insígnias. Lisboa, com 265 lojas, e Sintra, com 122, são os concelhos com maior número destes estabelecimentos, a que se juntam Porto e Vila Nova de Gaia, com 110 e 103 lojas, respetivamente. Estes quatro concelhos representam, em conjunto, quase 15% do parque de lojas existente em Portugal, mas representam uma parcela consideravelmente maior quando avaliada a correspondente área de vendas.

Ainda de acordo com a Marktest, o número de lojas existente em Outubro de 2022 correspondia a duas vezes e meia o número registado em 2009, quando se contavam apenas 1678 estabelecimentos de 36 insígnias.

Contudo, olhando para os dados referentes ao período mais recente (2018-2022) preparados pela Nielsen IQ, permite-nos uma análise mais focada, percebendo melhor, por exemplo, os impactos da pandemia, e uma análise mais fina, referenciada à tipologia/dimensão das lojas E o retrato, dessa forma, pode assumir contornos algo diferentes.

Assim, há uma quase total estagnação a nível de hipermercados, com a abertura de nove novas lojas em cinco anos, mas apenas duas com metragens efectivamente elevadas. As restantes sete, distribuídas entre Continente Modelo, Pingo Doce, E.Leclerc e o mais recente Intermarché de Abrantes, são, diria, supermercados de grande dimensão.

Já a nível de supermercados a evolução é mais relevante, com a abertura líquida de 156 novas lojas entre 2018 e 2021, a que se somam 39 nos primeiros 11 meses de 2022. Aqui sobressai a rede Mercadona (com um total de 38 lojas abertas entre Julho de 2019 e Novembro de 2022), mas também as 55 lojas da Aldi, as 51 lojas Continente (Modelo e Bom Dia), as 24 lojas Pingo Doce e as 18 lojas do Lidl.

Apenas as aberturas destas cinco insígnias representam mais de 95% (186 de 195) do total de aberturas. E neste universo não deve ser também esquecido o forte esforço de renovação e remodelação do parque de lojas realizado, por exemplo, pelo Lidl, Pingo Doce ou Intermarché.

O grande volume de lojas refere-se à área dita de proximidade, com as aberturas da rede Amanhecer em destaque, com mais 122 lojas nestes últimos 5 anos.

A multiplicação de lojas, seja nas cadeias de sortido mais curto (Aldi, Mercadona e Lidl), seja a nível de lojas de menor dimensão ou de proximidade das cadeias ditas convencionais (Jerónimo Martins, Sonae ou Auchan) acaba por ter um efeito afunilador no mercado, porque são espaços que pela selecção de sortido da insígnia ou pela selecção do sortido em função da área de venda, tendem a favorecer fortemente as marcas próprias em detrimento das marcas de fabricante.

Nas lojas das insígnias de discount, a quota das vendas de marca própria, não considerando frescos, superam os 75% do total (no caso da Mercadona aproximam-se dos 90%). Nas lojas de área reduzida das cadeias convencionais, o sortido é, obviamente, muito mais curto, do que – por exemplo – nos hipermercados e privilegia as marcas do retalhista e apenas reserva espaço a um número relativamente curto de referências das marcas líderes.

E, em boa verdade, quando o shopper aumenta a frequência de visitas e reduz a cesta de cada vez que vai às compras, é natural que o faça nas lojas mais próximas dos seus lares ou dos seus locais de trabalho, em detrimento das lojas com áreas mais amplas, normalmente mais distantes e periféricas… e mais adequadas a uma compra mais ampla que o consumidor, aparentemente, pretende evitar.

É no meio desta alteração de paisagem que surgem, uma vez mais, os rumores de que o Grupo Dia pretenderá vender a operação da insígnia Minipreço em Portugal. Este é um rumor que surge de tempos a tempos, sempre que as dificuldades surgem para o grupo espanhol, com sede no Luxemburgo e capitais originalmente russos.

Nos últimos anos, o Minipreço vem consistentemente perdendo quota de mercado, tendo, de acordo com as informações mais recentes, descido da fasquia de 3% de quota e baixado para o oitavo lugar da lista dos maiores retalhistas a operar em território nacional, ultrapassado no final de 2022 por Mercadona e Aldi.

Recorde, a propósito, que, há dez anos o Minipreço superava os 8% de quota de mercado e ocupava a quarta posição no ranking do retalho em Portugal, atrás de Sonae e Jerónimo Martins e bem próximo do último lugar do pódio, na altura ocupado pelo Intermarché.

Mesmo depois do encerramento da rede Clarel (que tinha cerca de 70 lojas), de vários espaços terem fechado (36 ao longo de 2022) e de, progressivamente muitos se terem transformado em lojas franchisadas (hoje 63% do total), o Minipreço tem ainda 463 lojas (172 próprias) e fechou 2022 com mais de 800 milhões de euros de volume de negócios (e um crescimento de 1,5% face a 2021, num mercado que cresceu 9,7%), com um Ebitda ajustado de 10 milhões e com resultados negativos de 20 milhões de euros

Se as vendas têm perdido espaço de ano-para-ano, o parque de lojas é, ainda assim, muito relevante e pode suscitar a cobiça de alguns interessados. Uma informação da Retail Data referenciada ao final de 2021, indicava que a rede Minipreço em Portugal tinha uma área de venda total de quase 200.000 metros quadrados. No entanto, a sua heterogeneidade (em relação à titularidade, à área e à inserção sócio-geográfica), associada à limitação de compra, por razões concorrenciais, por parte das duas maiores cadeias nacionais, pode introduzir dificuldades à operação.

O Grupo Dia terá encarregado a Société Générale, enquanto assessor financeiro, para estudar e apoiar esta eventual operação.

A ver vamos quais serão os próximos episódios.