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CAUTELAS E CALDOS DE GALINHA
Em Novembro de 2021 falar, uma vez mais, de covid-19, dos riscos da pandemia e dos impactos físicos, psicológicos, sociais ou económicos na nossa vida pessoal, familiar e profissional......
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CAUTELAS E CALDOS DE GALINHA

 

Em Novembro de 2021 falar, uma vez mais, de covid-19, dos riscos da pandemia e dos impactos físicos, psicológicos, sociais ou económicos na nossa vida pessoal, familiar e profissional ou dos efeitos mais amplos a nível social ou económico, soa enjoativo e requentado e parece já não captar demasiada atenção…

Mas a doença não está ainda totalmente ultrapassada e continua por aí. Há que saber conviver com a sua presença, mas, como diz o provérbio: mais vale prevenir do que remediar.

Assim, em estilo curto e grosso:

(1) Não queremos ver repetido o erro de avaliação do outono passado. Nunca é demais recordar a incapacidade de ler os sinais da aceleração da propagação da doença a partir de meados de Outubro de 2020 e as hesitações na tomada de certas medidas (em boa verdade também empurrada pelas pressões do lado da economia). Já todos compreendemos que sempre que o célebre índice de transmissibilidade ultrapassa a fasquia da unidade a aceleração do número de contágios é preocupante e seria altamente irresponsável não ter já preparados planos de contingência accionáveis, se e logo que necessário,

(2) Não parece que a capacidade de resposta do SNS esteja a ser reforçada. Bem pelo contrário, aquilo que vemos e lemos diariamente aponta para uma desagregação das estruturas, para demissões sucessivas nas chefias hospitalares, para queixas de escassez de recursos, para o agravar das listas de espera e do agravamento de todas as patologias não-covid. Diziam os antigos que quem vai para o mar, avia-se em terra. Como já ocorreu em 2020, não se aproveitou este período de maior acalmia para preparar as futuras situações de maior pressão e, uma vez mais, prefere-se actuar como bombeiros face a fogos florestais incontroláveis em vez de agir como verdadeiros agentes de prevenção florestal.

(3) Não se desperdice o enorme esforço colocado no programa de vacinação. Portugal conquistou uma posição invejável com o sucesso da mega operação de vacinação e devemos estar orgulhosos disso, mas sabemos também que essa será sempre uma ‘obra’ inacabada, seja por que vai ser necessário - presumo - o reforço periódico dessa mesma vacinação, seja porque mesmo que de uma forma mais suave e com menos impacto potencial a possibilidade de contaminação e transmissão não desaparece, seja porque num mundo de fronteiras abertas, que todos desejamos, nos cruzamos diariamente com pessoas provenientes de áreas onde as taxas de vacinação são incomparavelmente mais baixas. Por tudo isto, é importante não nos colocarmos preguiçosamente deitados à sombra dos nossos 85% de vacinados, até para que esse erro não remeta para um desincentivo à adesão às futuras ações de reforço de vacinação nem para a alimentação das teses rebuscadas dos activistas anti-vaxx.

(4) Não se contamine novamente um acto eleitoral pelo cenário de doença. Todos recordamos a forma quase surreal em que decorreram as eleições presidenciais em Janeiro, num país colocado em confinamento total e como se criou uma situação de excepção para que a votação decorresse. Já se tinha percebido no primeiro confinamento da primavera de 2020 que, pelo menos na cabeça de alguns, as regras rígidas teriam sempre excepções para a ‘vitalidade’ da democracia. Mas, em Janeiro, as Presidenciais eram um mero plebiscito à continuidade do actual presidente da república, com resultado previamente conhecido. Para 30 de Janeiro do ano que vem estão agendadas as eleições legislativas antecipadas, um acto de enorme importância para o país, num cenário ainda em aberto e em que, ao que tudo indica, iremos assistir a uma campanha eleitoral frenética e em que será essencial a mobilização dos eleitores. Era importante poder-se fazer esse exercício de cidadania sem ter que o estar a condicionar aos boletins diários da DGS.

(5) Não se condene, por inércia, o país ao suplício de novos períodos de confinamento total ou parcial. É verdade que nem sempre essa necessidade pode ser assacada aos políticos e às políticas e é também verdade que muito depende do nosso comportamento responsável enquanto cidadãos, enquanto trabalhadores, enquanto país… mas mais do que tudo, o que poderá reconduzir (longe vá o agoiro) o país a essa situação será sempre a impreparação, a hesitação e a inércia. Por isso, ê fundamental lembrar a quem nos governa que se está no pleno exercício das suas funções para a tomada de decisões em matérias que me parecem fortemente discutíveis, terá que o estar também - e por amplíssima maioria de razão - na prevenção, análise de risco e combate precoce a todo e qualquer sinal de regresso da pandemia.

Por isso, como diriam os antigos, recomendam-se cautelas e caldos de galinha.