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BOLETIM METEOROLÓGICO PARA UMA TEMPESTADE PERFEITA
A Centromarca organizou a 1 de Junho o seu II Congresso das Marcas, com o lema “Marcas. Agora É Pensar” ...
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A Centromarca organizou a 1 de Junho o seu II Congresso das Marcas, com o lema “Marcas. Agora É Pensar” e foram mais de sete centenas de participantes, maioritariamente ligados ao sector do grande consumo, os que estiveram presente nesta edição e que discutiram as dores-de-dentes e os sonhos do grande ecossistema das marcas.

Um Congresso onde fomos perceber se em Portugal o copo está ainda meio vazio pelos efeitos da crise e se os fundamentos da disrupção eram, afinal, um desastre pré-anunciado e, ao mesmo tempo, como estão as marcas a ler o boletim meteorológico desta tempestade perfeita.

Um Congresso onde tentamos saber se há espaço e ambição para colocar mais marcas portuguesas no mercado global e onde falamos de crescimento, bem como se as nossas empresas já estão em condições de passar o presente para o banco de trás e colocar o futuro ao volante das Marcas.

Um Congresso onde falamos ainda da necessária convergência, entre fornecedores e retalhistas, de caminhos e estratégias para não perder um consumidor em dificuldades.

Mas focando-nos especialmente no tema da disrupção e da necessária reacção que o mundo das marcas está a desenvolver, começamos por identificar os fundamentos da crise que estamos a atravessar e que tanto prejudica o funcionamento das cadeias de abastecimento, avaliando os impactos no funcionamento do mercado nacional, com especial foco no universo do grande consumo.

E não foi difícil perceber que se há razões próximas, muito associadas ao impacto da pandemia e às ondas-de-choque motivadas pelo conflito russo-ucraniano, há também razões ‘recorrentes’ e bem mais fundas para a disrupção que estamos a enfrentar.

Como dizia Augusto Mateus, à disrupção responde-se com disrupção, encarando de frente as necessidades de um consumidor que é bem mais do que apenas um cidadão com carteira, havendo que cuidar de desafios fundamentais como os do inverno demográfico, de uma sustentabilidade que deve ser assumida e praticada, da inovação, do produto aos formatos organizacionais, sempre na via de um efectivo desenvolvimento económico.

Concretizamos a discussão, convocando um conjunto de responsáveis de algumas das principais empresas do universo do grande consumo, a quem pedimos para ajudar a interpretar o boletim meteorológico da tempestade perfeita que assola as cadeias de aprovisionamento, para elencar as principais causas e as consequências do ‘novo mundo’ inflacionista e o seu impacto nas dinâmicas do mercado e para analisar como estas alterações estão a mudar os hábitos dos consumidores, a sua racionalidade na compra e o formato de funcionamento das organizações.

Numa altura em que o agravamento dos custos se faz sentir em praticamente todas as rúbricas, ficou claro que o extravasar desses incrementos é especialmente crítico, quando é conhecida a grande sensibilidade dos portugueses ao factor-preço, pelo que as empresas e as marcas sentem que devem fazer um forte esforço para contornar estas disrupções e, especialmente, para mitigar os seus impactos no mercado, com o objectivo de limitar os efeitos no poder de compra das famílias, sem colocar em causa a sustentabilidade das suas próprias organizações.

E ficou evidente que a reintrodução do fenómeno inflacionário nas empresas está a levantar dificuldades, exigindo como que uma reaprendizagem sobre como definir prioridades e abordar os clientes. Como ficou evidente a necessidade de apostar no reforço do abastecimento de proximidade e de uma discussão séria sobre o tema da soberania alimentar e, mais amplamente, da soberania do consumo.

Como Cláudia Lourenço (Procter&Gamble) referiu no nosso Congresso, “não escolhemos viver estes momentos, mas podemos escolher como os vivemos”. Parece, assim, evidente, que compete às autoridades públicas, nacionais e internacionais, mas, também, às empresas e ao ecossistema logístico fazer aquilo que melhor sabe: reintroduzir eficiência nos processos, trazer novamente fluidez aos fluxos, gerar novos equilíbrios entre oferta e procura que voltem a colocar cotações e preços em valores menos exorbitantes, recolocando a economia nos carris.

Gerar, o mais rapidamente possível, a bonança depois da tempestade.