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Opinião
AS PESSOAS NO INÍCIO, NO MEIO E NO FIM DE TODAS AS TRANSFORMAÇÕES
Vivemos um momento em que não é possível fugir do presente, do contexto e da conjuntura, da crise global em que estamos mergulhados ...
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 Vivemos um momento em que não é possível fugir do presente, do contexto e da conjuntura, da crise global em que estamos mergulhados e do sufoco e do estado de quase depressão colectiva em que, há mais de dois anos, vivemos em vagas sucessivas, entrecortadas por breves momentos de esperança e de aparente regresso a uma mais pacífica normalidade.

Mas isso não nos pode deixar distraídos das grandes discussões que estão a ocorrer a nível global e que demonstram que os períodos mais críticos e convulsivos, são também aqueles que mais empurram e aceleram as transformações da sociedade.

Mesmo que, ao mesmo tempo, inúmeros temas que, aparentemente, estavam colocados em segundas linhas de prioridade são, nestes momentos, repostos no topo da pilha de assuntos… veja-se, por exemplo, como temas como segurança, defesa, contingência ou soberania adquiriram enorme tracção nos últimos meses.

Não devemos, pois, iludir ou colocar no banco de suplentes a rota inexorável para o futuro e pensar, perceber, acompanhar e adoptar as múltiplas transformações que, queiramos ou não, dando-lhe a devida atenção ou não, estão a acontecer e vão ter um enorme impacto nas nossas vidas.

No fundo, sermos capazes de colocar o passado (e mesmo o presente) no banco de trás e termos a coragem de colocar o futuro no lugar do condutor, com a responsabilidade de ter o volante nas suas mãos, mesmo que quando estamos sentados no chamado ‘lugar do morto’, nos fartemos de carregar num travão imaginário que tantas vezes desejaríamos que estivesse nos nossos pés.

E essas transformações colocam-se nos mais diferentes planos e com os mais diversos impactos.

Temos as que implicam obstruções aos impactos desastrosos a que seríamos conduzidos se o curso normal da evolução ocorresse sem alterações.

Esse será obviamente o caso da Transformação Climática, do combate aos efeitos das alterações climáticas e da necessária busca de uma contenção na utilização dos recursos disponíveis e, obviamente, escassos, da sua circularização e regeneração, do aumento consciente da produção de vários recursos, sempre na busca de uma efectiva sustentabilidade, uma sustentabilidade que compagine as exigências ambientais, com a racionalidade económica e os imperativos sociais.

Depois há, claro, a Transformação Energética, motivada pela dependência e escassez das reservas de combustíveis fósseis, pelos efeitos ambientais e climáticos associados à sua utilização, pelo esforço de descarbonização das actividades e dos territórios, mas tendo também presentes as limitações actuais das energias renováveis na satisfação das necessidades energéticas globais, ao nível da mobilidade ou dos impactos ambientais dessa mesma transformação energética.

E, num plano algo distinto, a Transformação Demográfica, e se tempos houve que existiu uma forte tentativa de controlo da natalidade, hoje assistimos a um duplo efeito de redução generalizada da natalidade e de incremento da esperança de vida, o que conduz a uma alteração drástica da pirâmide etária e à emergência dos temas do envelhecimento e da longevidade, com impactos sociais e económicos óbvios, mas que se representam dificuldades que estão longe de ser incorporadas nas políticas públicas, apresentam também muitas oportunidades, a começar, claro, pela qualidade de vida de cada um de nós, no momento em que chegamos a faixas etárias que, há poucas décadas, pouco mais eram que um doloroso fim-de-vida.

Num plano diferente, diria de construção, temos a Transformação Industrial, a quarta revolução industrial ou mais vulgarmente chamada de Indústria 4.0 apoiada num princípio de interligação das máquinas, sistemas de produção e equipamentos, conferindo às empresas a capacidade de criar redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor, e assim, controlar e comandar os processos de produção de forma independente. Um processo de transformação metodológica e tecnológica dos modelos de produção, mais eficientes, mais inteligentes e mais sustentáveis e que colocam o sector transformador na mesma rota de todos os outros sectores da sociedade: o da Transformação Digital.

A integração das tecnologias digitais pelas empresas e por cada um de nós, está a ter um fortíssimo impacto em toda a sociedade. Plataformas digitais, Internet das Coisas, a computação em nuvem e a inteligência artificial são algumas das tecnologias mais facilmente identificáveis e afectam os mais diferentes sectores. Dos transportes à energia, das telecomunicações aos serviços financeiros, da produção industrial aos cuidados de saúde, do grande consumo ao setor agroalimentar, ajudando a optimizar a produção, a reduzir as emissões e o desperdício, aumentar as vantagens competitivas das empresas e a trazer novos serviços e produtos aos consumidores e está, obviamente, a transformar amplamente a vida das pessoas.

No entanto, num mundo em que a transformação é contínua e exponencial, em que tudo está conectado e interligado e em que a excelência e eficiência estão, aparentemente, ao alcance da mão, em que a ficção científica se converte quase instantaneamente em ciência, em que o futuro não irá ser, mas é já hoje, as pessoas são e serão sempre quem marcará a diferença.

Se é verdade que as capacidades que nos são exigidas ou a nossa forma de trabalhar estão a alterar-se a uma velocidade estonteante, acredito também que, nunca tanto como agora, tudo o que não for digitalizável terá verdadeiramente um valor acrescido: criatividade, imaginação, empatia, intuição, ética ou emoção.

A questão que se colocará constantemente será se as pessoas serão capazes de conduzir a mudança, ou se serão conduzidos por ela, mas na verdade, as pessoas estão e estarão sempre no início, no meio e no fim de todas estas transformações.