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Opinião
AS MARCAS, A POLÍTICA E AS MARCAS DA POLÍTICA
Estamos a poucos dias de mais um acto eleitoral, desta vez para os órgãos autárquicos. Como sabemos Marca e Reputação são duas caras da mesma moeda, de boa moeda.
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Estamos a poucos dias de mais um acto eleitoral, desta vez para os órgãos autárquicos.

Como sabemos Marca e Reputação são duas caras da mesma moeda, de boa moeda. Também os Partidos Políticos e os próprios Políticos são Marcas que dependem da Reputação para a sua aceitação

Uma Marca forte apoia a construção de uma boa Reputação, de igual modo uma boa Reputação é um alicerce poderoso na construção de uma Marca.

Por exemplo, a Reputação de uma empresa corresponde ao somatório das percepções sobre as suas ações corporativas quotidianas e ao grau de cumprimento das promessas que são entregues e percebidas pelos diferentes públicos-alvo, equivalendo à combinação de inovação empresarial, performance financeira, responsabilidade social e imagem das suas Marcas.

As Marcas são um dos activos mais importantes senão mesmo o principal activo das empresas que as detêm e há um vasto conjunto de valores que lhes aportam (ou deduzem) valor, que contribuem fortemente para a forma como ela é sentida pelo consumidor. Estamos a falar de tradição, herança, ética, empatia, honestidade, ligação emocional ao consumidor, credibilidade e, valores, todos eles, que se constituem como pilares da construção da Reputação.

Os Partidos políticos são também, se quisermos, Marcas. Os próprios Políticos sendo um produto, que os consumidores compram com o seu voto, possuem a sua Marca pessoal. Tal como as Marcas associadas a produtos e serviços, o respectivo valor alimenta-se de reputação e confiança, de transparência e honestidade, de empatia e credibilidade, de carisma e da capacidade de se ligar emocionalmente aos cidadãos.

E como Marca correspondem a uma promessa, uma promessa ideológica e de resposta para os problemas da sociedade, numa geografia mais alargada ou a nível local, mas também uma promessa de ética e de valores… e tal como para as ‘outras’ Marcas, uma promessa falhada corresponde a uma não compra (a um não voto) futura.

Os políticos e os seus Partidos, a nível nacional ou a nível local, andam há demasiado tempo a tentar deixar uma marca, mas sem cuidarem da sua Marca e da sua relação com os seus consumidores (neste caso, os votantes). Alimentam-se excessivamente de ruído e de táctica e tendem a deixar de lado a transparência e a confiança. Esquecem a sua herança e tradição em favor do imediatismo e do mediatismo. Rejeitam a Política com sentido de Estado ou de Liderança, em favor da conversão, neste caso, dos seus municípios e freguesias em tabuleiro dos seus joguinhos políticos.

Não cuidam, demasiadas vezes, da sua Reputação, enquanto políticos e enquanto Partidos e não cuidam da Reputação da Política e das suas Autarquias.

Os últimos dias têm sido pródigos na multiplicação de promessas irreais e fantasiosas por parte dos candidatos a autarcas, ou na apropriação pelos incumbentes de todo e qualquer sinal positivo, seja ele gerado pela sociedade civil, pela economia real ou pelo próprio Estado central, como se fosse obra sua ou, pelo menos, como se fosse um resultado que não teria sido obtido não fora a sua imprescindível intervenção   Não e apenas a nível central, mas também a nível local, que muitos políticos, movimentos de cidadãos, partidos políticos e certas formas de fazer política estão a ferir fortemente, quiçá definitivamente, a Reputação da Política.

A sociedade mudou, o ‘mercado’ (enquanto conjunto de votantes) mudou. As bandeiras e as arruadas, os jantares e os cartazes são formas ‘velhas’’ de fazer política – multiplicando caras e mensagens sem conteúdo - e não convencem nem inspiram os novos ‘consumidores’… Confunde-se modernidade com o ruído das redes sociais e apoio popular com a estridência militante.

O consumidor acaba por comprar a ‘marca branca’ (a abstenção, o voto em branco), porque já não acredita nas promessas das marcas (os partidos e os políticos). O alheamento e o desinteresse é directamente proporcional à falta de ética e à falta de valores. No fundo, os ‘produtos’ são todos iguais e eu compro aquele que me custa menos…

As Marcas actuais estão gastas e cansadas, deixaram-se gastar e não cuidaram de se revigorar como fazem as ‘outras’ marcas: com investimento e inovação, com criatividade e comunicação. E o ‘mercado’ definha, definha o Estado, definham as Autarquias, definha a Política, definha a Democracia.

Ao mesmo tempo, parece haver espaço para novos players, para a construção de novos valores e de uma nova ética, mas também para os extremismos, os populismos e até para o aproveitamento deste acto eleitoral como o momento de ‘dar-nas-vistas’, de conquistar notoriedade pela irreverência ou pel non-sense, sem qualquer objectivo presente de poder, mas apenas para ganhar espaço para outros voos futuros.

Estas novas ‘Marcas’ são ainda mais visíveis a nível local do que à escala nacional, podem gerar confiança e conquistar valor, mas podem também ser apenas diferentes, ‘giras’, ‘fracturantes’, alimentadas a ‘sound bytes’ e alimentando-se das mais primárias desconfianças dos cidadãos. Podem ser meras agremiações ‘contra’ ou espaços efectivos de construção, mas tendem a obrigar as ‘Marcas’ tradicionais a mexerem-se, a entrar em novos territórios, a arriscar em novas formas de fazer política.

Portugal e os portugueses precisam, no fundo, que as ‘Marcas’, as antigas ou as novas, recuperem a credibilidade da política e dos políticos, reconstruam o ‘mercado’ (fomentando consenso, diálogo e desenvolvimento socio-económico) e regenerem a Reputação, permitindo que os melhores e mais cap se reaproximem daquela que deveria ser a mais nobre área da cidadania: a Política.