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AFAGANDO A BOLA DE CRISTAL. O QUE NOS TRARÁ 2022?
É verdade que se voltou a falar – e muito – de Covid nestes últimos dias e todos percebemos que a crise de saúde pública, para mal dos nossos pecados, está ainda longe de estar totalmente ultrapassada...
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AFAGANDO A BOLA DE CRISTAL. O QUE NOS TRARÁ 2022?

É verdade que se voltou a falar – e muito – de Covid nestes últimos dias e todos percebemos que a crise de saúde pública, para mal dos nossos pecados, está ainda longe de estar totalmente ultrapassada, mas no mundo do grande consumo a endemia é quase como um fantasma do Natal passado e a grande preocupação actual prende-se com a gestão dos impactos que as diferentes disrupções nas cadeias de abastecimento estão a provocar.

Mas as preocupações não se ficam por aqui. Na verdade, os efeitos económicos recessivos gerados ou ampliados pelo Covid vão também estar no topo das preocupações, pois quebras no nível de emprego ou a redução efectiva do rendimento disponível das famílias terão sempre um impacto muito negativo no mercado do grande consumo. Como estarão também os efeitos sobre o funcionamento das organizações e sobre o próprio mercado de consumo que serão potencialmente gerados pela ‘normalização’ do trabalho não presencial, seja em formato total, seja em formato híbrido.

E se as preocupações com a nutrição e bem-estar associadas ao consumo já eram claramente sentidas no pré-pandemia e estão definitivamente incorporadas, serão agora os impactos da maior consciencialização para as questões da sustentabilidade e, dentro destas, para os impactos ambientais e para os efeitos das alterações climáticas, a ganhar crescente protagonismo.

Nas agendas das nossas empresas, o próximo ano será seguramente marcado pelas estratégias de gestão dos impactos das disrupções da cadeia de abastecimento e da forma como inflacionarão custos e poderão originar problemas de acesso a produtos, a matérias-primas ou a materiais de embalagem. Sendo certo que os desequilíbrios entre oferta, localização e procura estão hoje latentes, é também verdade que há hoje uma enorme pressão para os minimizar e corrigir, pelo que não é seguro se o seu efeito será limitado no tempo e marcadamente conjuntural ou, pior, se se agravará e, progressivamente, adquirirá contornos estruturais.

Por outro lado, a ampla crise de saúde pública que temos vindo a atravessar, motivou e continua a motivar perturbações no contexto socio-económico e irá dinamizar alterações nas rotinas do consumidor, na sua missão de compra, nas suas prioridades de escolha pelo será preciso estar especialmente atento a essas alterações, saber reagir e contornar dificuldades e, ao mesmo tempo, inovar e gerar novos produtos e novas oportunidades de venda e de consumo.

Finalmente, 2021 mostrou-nos que o desenvolvimento do canal online, sendo uma realidade, tem acelerações (e desacelerações) em função da nossa maior ou menor mobilidade. 2022 irá consolidar ainda mais essa tendência, fazendo com que muitas iniciativas nascidas à boleia da pandemia, sejam agora sujeitas a testes de consistência e de resistência, sendo que será o tempo de separar o trigo do joio. Mas, seguramente, iremos observar investimentos de consolidação e de entrada, de forma estruturada, no canal digital de operadores que não o fizeram, apressadamente, na fase mais dura da doença.

Os próximos meses antecipam-se, por tudo isto, especialmente duros ao nível das negociações entre fabricantes e distribuidores, pois, não obstante a conjuntura e as disrupções anteriormente referenciadas, os retalhistas gostariam – por certo - de agitar, uma vez mais, a bandeira do ‘preço mais baixo’, antecipando as dificuldades e perda de crescentes ao nível do poder de compra de uma larga franja das famílias portuguesas.

Contudo a conjuntura inflacionista – extensiva, obviamente, aos produtos de marca própria – implicará uma gestão cuidada e bem coordenada com os seus fornecedores, seja de marca de fabricante seja de marca de distribuidor, para que entre preços de prateleira e uma mais inteligente política promocional, se consiga que o impacto no linear não seja tão acentuado. Nunca esquecendo que o nível dos rendimentos não irá, por certo, acompanhar o incremento dos preços de muitos produtos essenciais e que, por essa via, a inflação é uma forma não menos penalizadora de austeridade que afectará, em especial, as famílias com rendimentos mais baixos.

Mas, ao mesmo, tempo, vale a pena recordar que os períodos de maiores dificuldades são, por norma, momentos mais avessos à entrada, nos lineares, de inovações e de novos produtos, havendo até a tentação de promover alguma simplificação de sortido para diminuir a complexidade e reduzir o custo operacional. Mas, em boa verdade, o consumidor está, nestas alturas, ainda mais atento a novos produtos que lhes permitam fazer face, de forma adequada, às suas dificuldades e que sintam que foram pensados para lhes facilitar a vida em momentos que se adivinham menos bons.

Parece, ainda, não muito complexo antecipar que 2022 será, de forma ainda mais acentuada do que o habitual, um ano de competição agressiva - e de resultado incerto - entre as marcas de fabricante e as marcas próprias dos operadores do retalho. O contexto económico é muito relevante, mas essa competição será empolada pela concorrência, a esse nível, entre distribuidores e pelo comportamento mais dinâmico que é actualmente apresentado pelos operadores de discount, onde, obviamente, a marca própria assume uma preponderância, mas também um peso nas vendas, muito mais amplo que nos operadores mais convencionais.

Afagar a bola de cristal tem sempre riscos. Antecipar tendências não é, certamente, mais fácil.

Adiciono apenas o desejo de que todos os protagonistas do nosso mercado sejam dotados da paciência, da serenidade e do bom senso, que permitam minimizar problemas, limar fricções, contornar obstáculos e contruir oportunidades, porque o ciclo económico, com mais ou menos arritmias, assemelha-se a um pêndulo de um relógio e a cada crise, sucede inexoravelmente uma nova retoma.