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A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO GRANDE CONSUMO
Escreve e bem a KPMG no seu relatório que a IA generativa vai ter um papel fundamental na área do retalho onde fazer mais com menos se está a converter num imperativo e que isso terá impacto e efeito de arrastamento nos sectores a montante.
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A KPMG espanhola e a publicação Food Retail divulgaram há poucos dias um interessante estudo intitulado ‘Transformación AlimentarIA’, de leitura e análise altamente recomendáveis.

O documento refere-se à realidade do mercado e da economia espanholas, mas as respectivas pistas reflectem uma realidade bastante semelhante à que observamos na indústria alimentar em Portugal, consideradas a dimensão de ambas. O documento foca-se no perímetro da indústria afro-alimentar, mas julgo ser extrapolável para outros sectores não alimentares do universo do grande consumo.

Uma razão mais para uma análise ainda mais alargada do documento…

Como se refere no estudo, “a IA generativa é uma ferramenta poderosa que tem o potencial de revolucionar a cadeia de valor (…) podendo ajudar produtores e distribuidores a optimizar as suas operações, a reduzir o desperdício e a melhorar a qualidade dos seus produtos”. Um dos impactos mais relevantes passará, seguramente, pela capacidade de melhorar a gestão da cadeia de aprovisionamento e de fazer chegar os produtos aos consumidores de forma adequada e eficiente.

Por isso, não é difícil perceber que “à medida que esta tecnologia for evoluindo, será interessante ver como será adoptada pelos diferentes players e que novas aplicações surgirão”.

E as conclusões obtidas junto de uma amostra de 130 empresas alimentares espanholas, parte importante das quais não demasiado surpreendentes, vão exactamente neste mesmo sentido…

A maioria das empresas (56%) considera que a IA generativa terá um impacto forte ou muito forte na sua organização.

Uma larguíssima maioria das empresas (91%) vê a IA generativa como uma oportunidade e apenas 5% a encara como uma ameaça. Mas, na verdade, mais de três quartos (77%) das empresas confessa um conhecimento muito limitado das suas aplicações e impactos.

Se calhar por isto mesmo, apenas quase três em cada dez (28%) indicam ir investir em IA generativa nós próximos 12 meses, sendo que 44% avançam que não estão ainda a considerar essa tipologia de investimentos no curto prazo.

Apesar da parcela, ainda curta, que indica a intenção de realizar investimentos a curto prazo, uma muito larga maioria (76%) espera que os mesmos tenham um payback bastante rápido (até dois anos) o que, supostamente, deveria conduzir a uma mais elevada intenção de apostar na adopção destas ferramentas.

A nível de impactos positivos, as empresas integradas na amostra referem, por ordem decrescente, o incremento da produtividade, a optimização de processos a nível de backoffice, a redução de custos e, apenas nas quarta e quinta posições, a melhoria das operações ao longo da cadeia de operações e uma melhor experiência para o cliente e o consumidor.

Em ângulo inverso, os principais riscos referenciados, em associação à adopção de IA generativa, passam pela vulnerabilidade da privacidade e dos dados pessoais, a possibilidade de exposição de informação confidencial da empresa (por exemplo, a nível de propriedade intelectual ou de segredos comerciais) e uma maior exposição a ciberataques.

Sete em cada dez empresas considera que a IA generativa a sua forma de trabalhar, sendo que há que compaginar as oportunidades ao nível de inovação, optimização e geração de dados, com a análise de risco e o impacto na saúde, segurança e nos direitos fundamentais das pessoas.

E a maioria (58%) prevê que a adopção da IA generativa terá um impacto positivo nos colaboradores das suas empresas, sendo que as áreas de Marketing e Comunicação, Serviço ao Cliente, Compras e Supply Chain e Operações.

Escreve e bem a KPMG no seu relatório que a IA generativa vai ter um papel fundamental na área do retalho onde fazer mais com menos se está a converter num imperativo e que isso terá impacto e efeito de arrastamento nos sectores a montante.

Parece, pois, razoavelmente fácil concluir que estas expectativas e preocupações são comuns aos dois países ibéricos, como o são também às áreas alimentar e não alimentar do universo FMCG. A dimensão e a preparação das pessoas assumir-se-á como valor fundamental na maior ou menor aceleração da adopção da IA generativa. Julgo não ser errado assumir que passando para a área não alimentar e considerando a maior dimensão média das empresas em causa, este esforço, investimento e transformação será até mais amplo e visível.

Este é mais um comboio que convém apanhar e uma outra área em que partir atrasado será sempre uma desvantagem competitiva.