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NATAL FOI ESCALFETA QUE PERMITIU AQUECER AS VENDAS
Às minhas memórias de Natais passados associo muitas vezes a imagem das escalfetas, naqueles tempos uma estrutura hexagonal de madeira que continha, no seu seio, uma base metálica onde se colocavam brasas e que era coberta por uma grade rudimentar.
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NATAL FOI ESCALFETA QUE PERMITIU AQUECER AS VENDAS

Às minhas memórias de Natais passados associo muitas vezes a imagem das escalfetas, naqueles tempos uma estrutura hexagonal de madeira que continha, no seu seio, uma base metálica onde se colocavam brasas e que era coberta por uma grade rudimentar. Lembro-me dos mais velhos sentados de volta da escalfeta, com os pés apoiados na moldura exterior, elas a tricotar, eles a ler o jornal e a bebericar vinho fino, ao som da Emissora Nacional, num ambiente confortável. E lembro-me dos avisos sérios em relação aos perigos da inalação dos fumos e aos riscos de nós, crianças pequenas e irrequietas, nos podermos queimar.

Estas memórias servem apenas para dar um pouco de colorido e de sentido de família - dois valores que sempre associo a este período do ano - aos números que nos chegam sobre o que aconteceu, do ponto de vista de comportamento comercial, nesta quadra natalícia, período que é sempre um balão de oxigénio para o retalho e seus fornecedores e de cuja performance, para muitas categorias de produtos, depende um ano mais ou menos bem-sucedido.

Da Nielsen recebemos já os dados relativos à semana 51, a semana de 20 a 26 de Dezembro, a semana do Natal. E deles podemos extrair que as vendas - no universo do retalho alimentar - superaram em 16% as da semana homóloga de 2020 (na qual, o crescimento face a igual período de 2019 já havia sido de 11%). Vendas muito fortes, sustentadas - como é normal - pelas compras de alimentação e bebidas, mas também pela aquisição de pet food e outros produtos para animais (hoje os patudos recebem prendas como qualquer outro membro da família).

Compras essencialmente efectuadas nas lojas físicas (as compras online de produto de supermercado quebraram relativamente ao Natal de 2020). Compras a apostarem mais fortemente nas marcas de fabricante do que noutros períodos do ano - este é o momento em que as coisas não podem correr mal - e realizadas num forte enquadramento promocional: 45 em cada 100 euros de compras foi gasto em produtos em promoção. Compras realizadas no comércio de ultraproximidade numa proporção bastante mais elevada do que o usual nas restantes semanas.

Entretanto, recebemos da SIBS Analytics uma das suas excelentes infografias que mostra que - transversalmente - o consumo em Portugal (medido pelas transacções realizadas com cartões de débito e crédito), no mês de dezembro de 2021, cresceu face aos dois últimos anos anteriores registando-se um aumento no total de compras (físicas e online) de 26% face a 2020 e mesmo de 19% face a 2019, no período pré-pandemia.

Considerando apenas as compras realizadas em lojas físicas, o crescimento foi de 26% face a 2020 e de 12% face ao ano antecedente. O crescimento das compras online no período foi ainda mais robusto, mais 86% face a 2019 e mais 31% em comparação com 2020. De facto, o comércio online tem ganho um peso assinalável no total das compras realizadas pelos portugueses, e representou neste último mês 14% do total de compras realizadas pelos portugueses (em 2019, esse peso não excedia os 9%).

Correspondendo à ideia sempre presente de que os portugueses deixam tudo para a última hora, não obstante os avisos para evitar aglomerações e outras confusões, os dias 22, 23 e 24 de Dezembro, bateram como habitualmente, todos os recordes com entre 59 e 85 pontos percentuais mais de transacções do que a média mdiária para o ano recém-terminado. No período correspondente à hora de almoço do dia 24 chegaram a fazer-se 346 transacções por segundo (!!!), um recorde absoluto da rede Multibanco.

Foi, pois, um Natal que, qual escalfeta, aqueceu o nosso retalho, um Natal positivo para muitas marcas e muitos fornecedores, um Natal positivo para o comércio de proximidade.

Esperemos, agora, que entre pandemia, medidas limitadoras de mobilidade e regulamentação que condiciona saldos e promoções, o comércio, depois deste aquecimento não apanhe uma corrente de ar ou um resfriado, que o coloque novamente sob pressão e nos leve para um terceiro ano consecutivo em que é necessário colocar umas velinhas e fazer umas preces para que a quadra natalícia consiga salvar aquilo que não se conseguiu alcançar ao longo do ano.